Na Lisnave travou-se uma das lutas mais avançadas deste período, em que as reivindicações eminentemente políticas, como o saneamento e a contestação à Lei da Greve e aos despedimentos, são centrais.
O movimento reivindicativo é anterior ao golpe militar. Logo no dia 25 de Abril, a mobilização centra-se no saneamento da administração e dos responsáveis pela repressão de uma greve ocorrida em 1969.
No dia 11 de maio dá-se a paralisação espontânea de trabalhadores, sem preparação ou aviso. No dia 15 começa a greve com ocupação das instalações e sequestro da administração, impedida de abandonar os estaleiros.
A greve termina no dia 23 de maio, mas a luta recrudescerá em meados de agosto, determinada pelos saneamentos mas também pela contestação à lei da greve.
Com a tensão política em crescendo, é marcada uma manifestação para o dia 12 de setembro, apoiada por extrema-esquerda e PS e com a oposição do PCP.
A manifestação é proibida pelo governo e uma delegação do MFA procura, sem sucesso, desmobilizar os trabalhadores. À saída dos estaleiros os trabalhadores deparam-se com veículos do COPCON e uma força de fuzileiros, a quem explicam as suas razões. Os militares solidarizam-se com os manifestantes, rejeitam intervir e proibir a manifestação, permitindo que esta aconteça.
Os trabalhadores avançam apesar da proibição, desobedecendo à lei. A manifestação, revelando rígida organização e disciplina, segue então em direção a Lisboa num impressionante desfile de cinco mil de operários de capacete e fato de trabalho, o “Exército de amor e capacetes” de que falava José Mário Branco.