O 28 de Setembro em debate com protagonistas
O 28 de Setembro de 1974 esteve em debate esta quinta-feira, dia 26 de setembro, na sede da Associação 25 de Abril, em Lisboa. O encontro contou com a participação dos militares de Abril Carlos Almada Contreiras; José Gabriel Pereira Pinto; Miguel Judas; e Vasco Lourenço, elementos da Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas (MFA) no 28 de Setembro e protagonistas desse acontecimento. A moderação ficou a cargo de Francisco Bairrão Ruivo, historiador e autor do livro «Spínola e a Revolução».
“A primeira grande tentativa de conter a mobilização em curso e a revolução”
Vasco Lourenço, presidente da direção da Associação 25 de Abril, recordou que, “para que o Programa se fizesse cumprir, o MFA teve de enfrentar três momentos complicados, sendo o 28 de Setembro o primeiro deles.”
Francisco Bairrão Ruivo começou por fazer uma contextualização sobre o tema, situando o 28 de Setembro de 1974 como “o culminar” de diversas ofensivas de António de Spínola, desde o 25 de Abril.
“O 28 de Setembro de 1974 é a primeira grande tentativa de conter a mobilização em curso e a revolução que se anunciava. Contempla a conjugação de uma manifestação de rua, de apoio ao Presidente da República, com movimentações militares e uma conspiração palaciana, visando o reforço dos poderes de Spínola”, resumiu.
Do ponto de vista das consequências desses acontecimentos, o historiador sistematizou: “Resultou, no imediato, na renúncia de Spínola, a 30 de setembro, numa reunião do Conselho de Estado transmitida em direto pela RTP; e marcou o início da primeira viragem à esquerda da revolução”.
Segundo Miguel Judas a Descolonização era uma questão central nas ambições de Spínola, e destacou a importância da componente civil – partidos políticos de esquerda, comissões de trabalhadores, populares, etc. – na criação de barricadas para dissuadir a alegada «Maioria Silenciosa».
“Os capitães demonstraram grande força e unidade”
Por seu lado, Carlos Almada Contreiras discordou dessa última análise, sublinhando que “as Forças Armadas tinham ainda uma força grande, e estavam comandadas pelo Comando Operacional do Continente (COPCON), que tinha a força que derivava da operação Viragem Histórica.”
“Os capitães – fundamentalmente do Exército – demonstraram grande força e unidade”, afirmou, sublinhando também “a importância de não ter sido declarado o estado de sítio”, como António de Spínola pretendia, e enaltecendo o papel de Isabel Magalhães Collaço no Conselho de Estado em que essa hipótese se colocou.
Para José Pereira Pinto, neste episódio, “a Comissão Coordenadora afirmou o poder que tinha”.
Vasco Lourenço recordou depois a demissão de três generais da Junta de Salvação Nacional – Diogo Neto, Galvão de Melo e Jaime Silvério Marques – e o início do processo de institucionalização do Movimento das Forças Armadas.
Saber mais sobre o 28 de Setembro
Com o objetivo de promover um maior conhecimento da história recente do país, e dando particular atenção aos mais jovens e aos professores, a Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril disponibiliza regularmente conteúdos históricos produzidos e verificados por especialistas, em regime de acesso livre, em https://50anos25abril.pt/historia/
No âmbito da evocação dos 50 anos do 28 de Setembro, está disponível no site das Comemorações um dossiê dedicado ao tema.
Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril até 2026
As Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril tiveram início em março de 2022 e vão decorrer até 2026. Cada ano foca-se num tema prioritário, tendo como objetivo reforçar a memória e enfatizar a relevância atual destes acontecimentos na construção e afirmação da democracia.
O período inicial das Comemorações foi dedicado aos movimentos sociais e políticos que criaram as condições para o golpe militar. A partir de 2024, revisitam-se os três ‘D’ do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA), em iniciativas que evocam o processo de descolonização, a democratização e o desenvolvimento.