Para assinalar os 50 anos do 25 de Abril, a Antena 1 relata o caminho até ao golpe militar de 1974 e todo o percurso do processo de democratização até 1976. O programa «De Cravo ao Peito» dá ainda conta de como, nos dias de hoje, o país celebra a Liberdade.
As histórias reúnem testemunhos dos acontecimentos e especialistas, tirando também partido do vasto arquivo sonoro da rádio pública.
O programa, da autoria de Mário Galego, pode ser ouvido mensalmente, em antena, mas também em podcast. O objetivo, explica o autor, é levar “um pedaço relevante da história recente de Portugal a todos”, quer aos que a viveram, quer aos que “pretendem saber porque é que a Liberdade é tão importante nas nossas vidas”.
Esta iniciativa integra as Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Uma viagem sonora entre 1972 e 1976
«De Cravo ao Peito» começou em março de 2022 e prolongar-se-á até dezembro de 2026, evocando, num primeiro momento, os acontecimentos determinantes para o sucesso do golpe militar, e, a partir de 2024, os momentos fulcrais para a construção da democracia. Assim, esta viagem sonora acompanha a trilha das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Dirigido a vários públicos — os que ainda têm a rádio como companhia e os mais novos que procuram informação e História em formato podcast —, o programa tem na sua base um aturado trabalho de pesquisa e investigação. “Com base nesse trabalho, define-se a cronologia e procura-se no Arquivo Histórico da RTP os sons que marcaram um determinado período, selecionando o mais significativo, e acrescentam-se entrevistas, depoimentos ou reportagens com o que a atualidade conta acerca do 25 de Abril”, explica o autor.
Um roteiro para 2024
Em 2024, o «De Cravo ao Peito» vai focar-se, nomeadamente, no impacto da publicação do livro «Portugal e o Futuro», do general António de Spínola, em fevereiro de 1974, e no qual o carismático militar defende que a solução para a Guerra na Guiné é política e não militar; no I Encontro da Canção Portuguesa, realizado a 28 de março desse ano, em que atuaram relevantes nomes da canção de intervenção, como José Afonso ou Adriano Correia de Oliveira, e se ouviram, do público, gritos de “Abaixo a repressão!”; no dia 25 de Abril, em que jovens capitães derrubam o regime ditatorial de Marcelo Caetano; na crise de 28 de setembro, data em que um confronto entre setores conservadores da sociedade (a denominada “maioria silenciosa”) e setores à esquerda, apoiados pela Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas, resulta na demissão do general Spínola do cargo de Presidente da República; na preparação do processo eleitoral (as Eleições para a Assembleia Constituinte teriam lugar a 25 de abril de 1975); e nas independências das então Colónias (a partir da Lei 7/74, de 27 de julho).
Perspetivas e testemunhos inéditos
Alguns dos episódios já emitidos contêm documentos sonoros inéditos. É o caso, por exemplo, do episódio sobre os portugueses que foram informadores da PIDE/DGS, a polícia política do Estado Novo.
Nesse programa ouvem-se gravações nunca antes divulgadas de inquéritos de inspetores a pessoas anónimas ou a denunciadores. As gravações, que estão depositadas no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, demonstram a interação dos inspetores da polícia política com as pessoas.
Há também episódios que são recordados pelos seus protagonistas 50 anos depois,contribuindo para uma melhor compreensão dos mesmos. É o caso da Vigília da Capela do Rato, dos acontecimentos que conduziram ao assassinato pela PIDE do jovem estudante José Ribeiro dos Santos, ou do III Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro.
O autor
Mário Galego nasceu na Nazaré, em 1969. É jornalista desde 1987. Assumiu o cargo de diretor de informação da Antena 1 em agosto de 2023. Os trabalhos que publicou na rádio ao longo da sua carreira receberam inúmeras distinções, nomeadamente, em 2014, o Prémio Gazeta de Jornalismo, na categoria de Rádio, pela reportagem «Cante da Humanidade», sobre o Cante Alentejano.
É autor de três livros: «Era uma classe», obra biográfica sobre o músico nazareno e artista multifacetado Silvino Pais da Silva, que publicou em 2019; «Uma estória de Jazz em Valado dos Frades», publicado em 2004, sobre como surgiu a música improvisada naquela vila tradicionalmente agrícola do oeste português; e «No tempo dos pinhocos», uma história postal da Nazaré, também de 2004.