Crise académica de 1962: o início do fim da ditadura
Colóquio e exposição assinalam os 60 anos da contestação estudantil ao Estado Novo.
No momento em que teremos mais dias de democracia do que ditadura, momento esse de um profundo simbolismo, é o ponto de partida para as comemorações oficiais dos 50 anos da revolução em Portugal – e, coincidência feliz, é também a data em que se cumprem os 60 anos da crise académica de Lisboa.
O papel do movimento associativo estudantil, traduzido nas várias crises académicas que enfrentaram a ditadura, é, por isso, um dos temas em destaque nas celebrações e será tema de reflexão do colóquio “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril”.
Juntamente com o coloquio, a exposição “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril” também pretende contribuir para a compreensão de um dos momentos cruciais para o início do fim da ditadura.
A pretexto da evocação da crise académica de Lisboa, a exposição, inspirada pela frase “o 25 de Abril começou a 24 de março”, do Presidente Jorge Sampaio (que, em 1962, presidia à Reunião Inter-Associações dos Estudantes), mostra uma detalhada cronologia dessas “Primaveras Estudantis” que abalaram a ditadura.
Colóquio – 24 de março – 9:30 às 17:30 na Reitoria da Universidade de Lisboa
O papel dos movimentos associativos estudantis na construção da democracia será tema de reflexão no colóquio “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril”. Alguns dos principais protagonistas das crises académicas vão desfiar memórias, na primeira pessoa, e juntar-se no tradicional almoço-convívio na Cantina da Universidade de Lisboa (inscrição junto do Núcleo de Antigos Estudantes).
Será ainda estreado o documentário “Sampaio, Caetano e Salazar: o confronto de 1962”, realizado pelo jornalista Jacinto Godinho e produzido pela RTP. A participação nesta iniciativa, que contará com as intervenções do Presidente da República e do presidente da Assembleia da República, bem como do reitor da Universidade de Lisboa e do comissário executivo das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Exposição – 24 de março – 18:00 no Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa
No dia 24 de março de 1962, o Estado Novo proibiu as comemorações do Dia do Estudante e a polícia ocupou a Cidade Universitária, em Lisboa. Os estudantes tentaram reagir à forma como o regime de Salazar impedia, pela força, que se assinalasse aquele dia simbólico. Por que decidiu a ditadura enfrentar os estudantes em 1962? Esta pergunta suscita, ainda hoje, várias respostas.
A exposição “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril” pretende mostrar a importância do movimento estudantil para a democracia portuguesa. Filmes originais guardados nos arquivos da Cinemateca, sons da rádio pública, fotografias censuradas que nunca puderam ser impressas nos jornais, textos escritos às escondidas e distribuídos com regras de segurança apertadas, autocolantes artesanais e muitos outros objetos de valor histórico, recolhidos em coleções privadas e arquivos pessoais, estarão em exibição nos monitores, pontos de escuta e vitrines.
Esta viagem multimédia inclui ainda um mural de homenagem aos mais de 900 estudantes presos durante a ditadura.
Coordenada por Álvaro Garrido, professor de História da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e autor de obras de referência sobre este período histórico, uma equipa de três historiadores (Ana Sofia Ferreira, Francisco Henriques e Gil Gonçalves) e um jornalista (Paulo Pena) produziu, com conceção e realização museográfica de António Viana, uma detalhada cronologia dos acontecimentos dessas “Primaveras Estudantis” que abalaram a ditadura e formaram civicamente várias gerações.
A exposição estará patente no Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, até dia 28 de agosto, período durante o qual os serviços educativos organizarão visitas comentadas, seguindo para Coimbra no último trimestre do ano.