A minha história antes, no dia, e depois do Abril 1974
Nascido em 1949, natural de Beja, Portugal.
A minha história antes, no dia, e depois do Abril 1974
Capítulo 1 – Antes do 25 de Abril de 1974
Em 1960, fiz o exame da 4ª classe para a fase seguinte dos estudos, para seguir o Curso Industrial ou seguir o Liceu para acesso ao ensino superior, passei no exame mas o meu destino já estava marcado pela minha mãe, ir para o curso Industrial, porque as propinas eram mais baratas e ficava ao pé de casa…
Nessa altura, já depois no 3º ano, havia uma coisa que me fazia confusão, a escola industrial tinha vários locais na vila, para dar aulas, além da sede, e para irmos para outra aula, tínhamos de atravessar a vila e reparava que regularmente, estava sempre um senhor “intelectual” no mesmo café, a ler um livro, e um outro que não trabalhava e dormia de dia, por causa das “serenatas” à noite…e perguntava-me a mim mesmo de que viviam eles, pois o meu pai e os meus vizinhos, saiam todos os dias de casa de manhã cedo, para ir trabalhar…
Em 1965, chumbei o ano por faltas, por causa do futebol no “aterro da ponte”, porque me “baldava” às aulas e decidi acabar o curso à noite e trabalhar de dia…
No verão de 1965, comecei a trabalhar na Mague, em Alverca, com 16 anos, como aprendiz de desenhador, onde aprendi bastante e acabei o curso industrial, e como ganhava pouco, respondi a um anúncio de desenhador, para Lisboa, onde me admitiram e trabalhei lá até à altura em que éramos obrigados a ir para a tropa, mas isso já nós sabíamos…
Já namorava, com a minha actual esposa, quando fui para a tropa em 1970. Já tinha 17 meses de tropa na Metrópole, quando fui mobilizado para o Ultramar em 1971… portanto, ia ter mais 24 meses de tropa e mais algum de “lerpanço”, ao todo foram 42 meses de tropa, o que era muito, para quem não gostava da vida militar, como eu… regressei em Dezembro de 1973.
Mas apesar deste tempo militar, havia uma coisa que me deixava feliz, já tinha a tropa feita, ia regressar ao meu trabalho, casar-me e ter filhos, enfim, finalmente ia ter uma vida normal como toda a malta mais velha, pensava eu…
Capítulo 2 – No dia 25 de Abril
Saí de casa de manhã cedo, com a minha esposa, de Vila Franca de Xira, para irmos trabalhar para Lisboa, no meu Fiat 850 Sport Coupé. Ela trabalhava na Rua Tomás Ribeiro e eu na Avenida Praia da Vitória, e dirigi-me à auto estrada, mas esta estava cortada e mandaram-nos para trás, sem qualquer explicação…fui então pela Estrada Nacional para Lisboa.
O meu auto-rádio de teclas Philips, estava sintonizado no Rádio Clube Português, e quando estava a chegar aos Móveis Olaio, na Bobadela, Sacavém, começamos a ouvir o comunicado do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, pela voz do Joaquim Furtado:
“Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas nas quais se devem conservar com a máxima calma.
Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo.
Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração que se deseja, sinceramente, desnecessária.”
Chegámos aos nossos empregos, mas mandaram-nos de volta, para casa.
Já em casa, começámos a ouvir mais comunicados no rádio e na televisão, sobre o que se estava a passar e mais tarde, passaram o Grandola Vila Morena, do Zeca Afonso, estava a começar a Revolução dos Cravos com o MFA (Movimento das Forças Armadas)!
Pela madrugada, vimos na televisão, o comunicado oficial da Junta de Salvação Nacional, que era composta pelo Capitão-de-fragata Rosa Coutinho (Marinha), Capitão-demar-e-guerra Pinheiro de Azevedo (Marinha), General Costa Gomes (Exército), General António de Spínola (Exército), Brigadeiro Silvério Marques (Exército), Coronel Galvão de Melo (Força Aérea) e General Diogo Neto (Força Aérea e que não esteve presente).
Com este comunicado, ficámos a saber o que estava a acontecer e quem eram os responsáveis pela revolução.
Eu, pessoalmente, fiquei contente, com a ideia de podermos ser “livres”, isto é, falarmos mal do Estado, sem ser preso pela P.I.D.E.
A vida continuou, com Governos Provisórios…não me esquecendo de um maluco de um general primeiro ministro, que queria nova ditadura em Portugal, que felizmente foi abortada…com as as primeiras eleições livres em 1976.
Capítulo 3 – Depois do 25 de Abril de 1974
Foram períodos conturbantes até aos dias de hoje, mas estou bastante desiludido, pois quem nos governa, não são os melhores e não estão lá por mérito.
Do tal “intelectual” e o das “serenatas”, que falei no inicio, vi um deles ao lado do secretário-geral dum partido de esquerda e o outro até teve assento parlamentar… aqui comecei a desconfiar da politica…
Depois vejo políticos que nunca trabalharam, fizeram a sua vida nas chamadas “Juventudes…” e entraram directamente no serviço público do Estado, e agora são os filhos, sobrinhos enteados, etc, que formam os governos, sem terem aptidão alguma para gerir seja o que fôr, e criaram uma clientela que vota neles, à base de troca de favores na vida pública…são todos doutores e engenheiros, só para terem o título, sem nunca terem usado o curso que tiraram…
Outra coisa que tenho analisado, é que são uma cambada de “bufos”, que transmitem entre eles, o que se passa cá fora connosco, para que se necessário, nos “fazerem a folha”, é a nova P.I.D.E. “democrática”.
Somos geridos pelos piores e incompetentes, se eles trabalhassem em empresas privadas, já tinham sido despedidos. Não há qualquer seriedade nestes politicos, que têm esbanjado o dinheiro que vem da CEE e dos nossos impostos, em esquemas para proveito próprio, atrasando o desenvolvimento do País e pondo em debandada daqui para fora, os melhores!
Outra coisa, são os sindicatos, que em vez de defenderem os trabalhadores, são “guardas avançadas” de partidos políticos, que usam a força dos trabalhadores, só para destabilizarem o País, aliás, deve-se bastante a eles, a desmembração da Indústria (Sorefame, Tramagal, Mague, Lisnave, etc.)
Neste momento desisti de ir votar, pois é um sistem viciado de “pescadinha de rabo na boca”, em que são sempre os mesmos que lá estão.
E um partido já devia de ter mudado o nome, pois já vivemos numa ditadura e não queremos outra, e nessas ditaduras não têm direito a sindicatos, nem a fazerem greve!
Para terminar, esta democracia viciada, é uma desilusão para mim, e só tenho esperança é de que alguém desta nova geração, tome conta disto, e corra com estes incompetentes!
Um anónimo descrente, com medo de represálias.
25 de Abril de 2023