«VOAR PELAS CORES DOS PENSAMENTOS
Em toda a obra de um artista existe sempre Aquela que melhor o caracteriza ou define.
Quando olho para a tela Lançar o Papagaio, vejo a essência de António Carmo. Vejo liberdade, vejo sonho, vejo imaginação, ainda que enraizada em tradição; vejo, sobretudo, o verdadeiro Eu de uma criança.
Aqui perco-me em pensamentos e sentimentos de infância… toda a envolvência reflecte a liberdade, a felicidade… transporto-me para casa dos avós… Vemos o Moinho de Vento, o Espantalho, o Papagaio de Papel… Idealizo um campo de milho, onde corremos livremente e libertamos um pedaço de papel cheio de cor, que apesar de preso a nós por um cordão, vagueia ao sabor do vento, levando os nossos pensamentos a voar, os nossos sonhos a ganhar ânimo; vejo o pouco a ser muito, o brincar na rua, o abraçar sem preconceito… Vejo um espaço onde somos felizes!
Quem conhece António Carmo sabe, que o seu EU interior vive dessa criança que nunca se perdeu, que sempre acreditou e em constante criação. É esta maturidade de uma criança que encontramos em toda a sua obra; num desagarrar de preconceitos, desprender de pensamentos vincados e entrançados em supostas necessidades, num agarrar da liberdade… com toda a leveza que uma criança tem!
Uma leveza que vemos nas linhas dos desenhos a tinta da china da sua fase de intervenção que reclamavam por uma liberdade roubada, até às múltiplas conjugações de cores dos seus óleos que proclamam uma liberdade condicionada a si própria.
No fundo… a felicidade faz-se de coisas leves, coisas simples… e toda a criança vive com a felicidade dentro de si, o importante é permitir que essa infância prevaleça para que a esperança jamais possa partir. Olhemos então as obras deste artista até onde a nossa imaginação nos permita voar pelas cores dos pensamentos.»