Tenha o enredo que tenha por trás – aqui, uma enfermeira acompanha um trabalhador cabo-verdiano que é enviado em coma para a sua terra natal -, a verdade é que Pedro Costa filma em Cabo Verde. Isso é apresentado imediatamente como um dado do filme, o seu aviso de entrada, numa poderosa composição geo-temporal, estratigráfica: as primeiras imagens são das montanhas vulcânicas da Ilha do Fogo e da erupção de um vulcão, com o vermelho da lava que se retorce desde o interior da terra, a que se sucedem, primeiro, os cabelos alourados, revoltos, de uma criança mulata, e depois os rostos imóveis de raparigas e mulheres, com os traços da miscigenação, registo das esculturas vivas do tempo à superfície da terra. Coloca-se a questão do conhecimento: o que é este lugar, o que são estas pessoas? Na série monumental que a obra de Pedro Costa erige, tudo começa aqui.
Ano: 1994
Duração: 110′