“Este ano celebramos o 25 de Abril e os 50 anos do começo da vida democrática no nosso pais.
A exposição «Boato» de Henrique Ruivo integra as comemorações desse momento fundador na Tinta nos Nervos. Nascido em plena ditadura, no Alentejo, Henrique Ruivo (1935-2020) deu voz no seu trabalho gráfico e plástico ao combate pela liberdade, à resistência e à aspiração por dias melhores.
Os trabalhos em mostra datam sobretudo da década de 1970, com particular incidência no periodo revolucionário e anos posteriores, quando pintura e obra gráfica se contaminaram, influenciaram e criaram territórios de leitura e pesquisa comuns, para lá de especificidades disciplinares e dos momentos em que foram produzidas.
Reúnem-se projectos gráficos realizados em diferentes contextos (da pesquisa artística à intervenção, à contestação) e em diversos suportes: Ilustração, Cartoon político, Caricatura, Propostas gráficas para Jornais, Revistas, Livros (capas para múltiplas editoras), Autocolantes, Capas de discos, Cartazes, Serigrafias, Pintura.
A maior parte dos originais de desenho são inéditos, muitos produzidos no âmbito da sua participação activa na redação e composição gráfica da revista Seara Nova, e as pinturas e esculturas raramente vistas após o contexto expositivo original.
Num discurso autoral em que o humor é quase sempre pedra de toque, sátira e critica mais aguerrida caminham sempre de mãos dadas com uma transbordante alegria de poder participar nos dias da revolução.
O percurso inicia-se com uma publicação autoeditada, o jornal O Cacete, de 1969, de que se mostram desenhos e matrizes originais. Impressa em Roma, onde o artista vive exilado de 1962 a 1974, o 1º numero teve uma tiragem de centenas de exemplares, distribuidos clandestinamente por vários nucleos de resistentes antifascistas em Itália, França, Inglaterra, Argelia e Portugal.
O cartaz Boato, de 1975, dá nome à exposição. Peça de resistência revolucionaria aludia à figura criada por Quito no apelo à manifestação da maioria silenciosa para corporizar, em contraposição, a necessidade de manutenção dum estado de alerta constante contra tudo o que pudesse ameaçar ou comprometer a liberdade alcançada. A par do poster, que foi editado em vários formatos (ed. Dinamização Cultural.Acção Civica / MFA) , mostram-se, pela primeira vez, esboços originais onde se estudaram cores e soluções de composição.