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Capa do Evento 50 anos de 25 de Abril: Revoluções - Evoluções, por João Roiz Ensemble

O programa proposto pelo João Roiz Ensemble pretende marcar os 50 anos do 25 de Abril, constituindo-se como uma reflexão musical acerca da dialética – nem sempre pacífica – revolução/evolução. Se é certo que por vezes a evolução social e artística estagna e as revoluções aparecem como solução emergente para a progressão do Homem, é também certo que estas sempre encerram em si os perigos da destruição de valores sedimentados ao longo de muitas gerações, que só uma lenta maturação evolutiva permite que tragam frutos para o bem-estar da humanidade. Neste sentido, as obras que aqui se apresentam refletem esta dicotomia, por vezes conflituosa, entre estas duas visões do mundo: revolução e evolução.
Poder-se-á notar este conflito num dos primeiros quartetos de Beethoven – op.18 nº4 -, quando o compositor estava ainda sob o jugo do fervor revolucionário que em inícios de Séc. XIX varria a europa central, mas em que só um domínio técnico das tradições conservadas ao longo de séculos permitiu uma decisiva expansão formal e estética; em Schostakovich, por outro lado, ouvimos sem mácula os sons do realismo socialista, a nova arte da vanguarda popular de então; em Lopes-Graça e Eurico Carrapatoso, sob ângulos diferentes, é possível sentir o olhar para as tradições musicais mais profundas de um Portugal ainda não contaminado pelas músicas europeias, restos de um folclore puro, que diz mais sobre a importância da permanência e conservação de valores e tradições do que das técnicas musicais revolucionárias com que as mesmas têm sido tratadas desde a segunda metade do século XX; em Puccini podemos escutar as belezas de uma arte musical europeia madura, de carácter conservador, que assumidamente rejeita as revoluções estéticas que aparecem nos finais do século XIX e inícios do século XX, repertório esse que, talvez por isso, é ainda um dos mais amados dos públicos atuais.

#50anos25abril