No dia 1 de maio comemorou-se o 50.º aniversário da libertação dos presos do Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde. Esse Campo foi fundado pelo salazarismo em 1936 sob a designação eufemística de Colónia Penal de Cabo Verde com o propósito de reprimir os seus opositores. De 1936 a 1954 foram confinados no Tarrafal centenas de presos políticos portugueses; e de 1961 a 1974 centenas de anticolonialistas de Angola, Guiné e Cabo Verde que lutavam pela independência das colónias portuguesas em África. Torturas, doenças, mortes, censura, trabalho forçado e outras práticas repressivas caraterizaram o confinamento executado no Tarrafal. A história dessa prisão deve ser interpretada como parte integrante das políticas de confinamento colonial e das práticas de violência política que regimes ditatoriais (dentre eles o Estado Novo) executaram em diferentes partes do globo ao longo do século XX. Ao mesmo tempo, o confinamento colonial não pode ser desligado da história global da expansão imperial europeia e dos colonialismos.
Tomando como evocação o 88.º aniversário (29 de outubro 1936 – 29 de outubro 2024) do internamento dos primeiros deportados políticos na prisão do Tarrafal em Cabo Verde, este Colóquio Internacional visa ampliar o debate sobre antigas e novas práticas de confinamento, nas suas múltiplas declinações e modalidades. Pretende-se discutir a forma campo (Rahola 2007), por um lado, numa perspetiva histórica, assim como as diferentes práticas de encarceramento colonial. Por outro, é intenção deste Colóquio refletir de forma alargada e transdisciplinar sobre os espaços, as memórias, as narrativas e as experiências de detenção, e a forma como os seus legados marcam a genealogia de práticas contemporâneas de confinamento. Neste quadro, apelamos ao envio de propostas de comunicação que dialogam com esses e outros temas conexos:
Experiências de confinamento colonial; Memórias e narrativas de detenção; Prisão e repressão política; Violências coloniais e pós-coloniais na forma campo; Artes, violências, narrativas e representações do confinamento; Prisões, estratégias de resistências e redes transnacionais de luta; Arquipélagos do confinamento: prisões políticas, colónias penais, campos de trabalho forçado, campos de refugiados; Espaços e formas de confinamento – perspetivas comparadas; Políticas de memória, reapropriações, modalidades de reutilização dos espaços de confinamento colonial; Espaços racializados e compartimentação da diferença.