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A cautelosa posição da versão final do Programa do MFA e as declarações dos membros da Junta de Salvação Nacional (JSN) não tranquilizaram os meios internacionais e os movimentos de libertação.

Fala-se em referendo, na manutenção dos laços com Portugal, duvida-se da representatividade dos movimentos de libertação.

Na madrugada do dia 25 de Abril, a Junta de Salvação Nacional foi apresentada ao país. Na ocasião, António de Spínola afirma o propósito de «garantir a sobrevivência da nação soberana no seu todo pluricontinental».
Fonte: ANTT, FLAMA
Na madrugada do dia 25 de Abril, a Junta de Salvação Nacional foi apresentada ao país. Na ocasião, António de Spínola afirmou o propósito de «garantir a sobrevivência da nação soberana no seu todo pluricontinental».
Fonte: ANTT, FLAMA

 

  • O primeiro-ministro do I Governo Provisório, Adelino da Palma Carlos, a seguir à sua posse, admite como óbvia a solução de um Estado federal;
  • Responsáveis políticos com posições anticoloniais anteriores ao 25 de Abril, alguns com assento no Governo Provisório, tomavam posições mais ousadas, sugerindo negociações com os movimentos de libertação e a aceitação das independências, considerando irrealistas prazos dilatados que aguardassem a realização prévia de eleições em Portugal;
  • PCP, MDP/CDE e PS advogavam soluções que conduzissem às independências, tendo como condição prévia o termo da guerra colonial;
  • PPD e CDS apontaram no mesmo sentido quando das suas formações;
  • SEDES, MES e MPM (antecessor do PPM) propunham publicamente soluções que iam da autodeterminação à independência imediata, ou apenas o fim da guerra;
  • Outros grupos mais radicais, como o MRPP, eram pelo abandono puro e simples das colónias e procuravam boicotar o embarque de tropas para o ultramar;
  • Apenas organizações de duvidosa representatividade apoiavam teses federalistas ou outras formas de ligação política, como o Movimento Popular Africano, o Movimento Federalista Português ou o Partido Democrata-Cristão (PDC);
  • Algumas personalidades pretendiam eleições prévias ou constituições plebiscitadas em cada colónia antes do reconhecimento do direito à independência, sem esclarecerem como se conseguiria que os movimentos parassem a luta armada para viabilizarem tal solução.

No interior do MFA acentuaram-se as divergências originais. Nas frentes de operações africanas a maioria dos militares tinha pressa e, numa perspetiva imediatista, deixou de ver sentido no seu sacrifício.

Outros militares, nomeadamente aqueles dos quadros permanentes que acumulavam comissões sucessivas nas capitais ou nas grandes cidades das colónias, encaravam com desconfiança a retirada. A reunião da Manutenção Militar (13-06-1974) em que Spínola pede um voto de confiança para a condução da descolonização acentua a divisão entre os spinolistas e os outros.

Tomada de posse do general António de Spínola como Presidente da República, 15 de maio de 1974. Fonte: ANTT, EPJS Tomada de posse do general António de Spínola como Presidente da República, 15 de maio de 1974. Fonte: ANTT, EPJS

Estas indefinições provocam uma sistemática campanha internacional de pressão sobre os responsáveis portugueses para que reconheçam o direito das colónias à independência e encetem negociações com os movimentos de libertação. Multiplicam-se os apelos, as suspeitas, as ameaças, de muitos países, mas principalmente de organizações internacionais, como a ONU, a OUA, a Comissão de Descolonização, a  Comissão contra o Apartheid, o Conselho para a Namíbia e as organizações religiosas.

Os movimentos de libertação intensificam as suas pressões e procuram concertar as suas ações, fazendo depender o avanço das negociações com cada um da garantia de que Portugal aceita negociar com os outros. Apelam à vigilância conjunta e à intensificação da luta enquanto não obtêm as concessões que exigiam.

Chegada a Lisboa do governador-geral de Angola, general Silvino Silvério Marques, 20 de julho de 1974. Fonte: ANTT, EPJS
Chegada a Lisboa do governador-geral de Angola, general Silvino Silvério Marques, 20 de julho de 1974.
Fonte: ANTT, EPJS

 

O PAIGC retardou as negociações do acordo para o reconhecimento da República da Guiné-Bissau, as primeiras que se travaram. Os movimentos de libertação começavam, entretanto, a ser aceites em organizações internacionais, como a Comissão de Descolonização da ONU e a UNESCO. Alguns gestos do Estado português reforçam as suspeitas, como a nomeação de Silvino Silvério Marques para governador de Angola e o encontro de Spínola com Nixon nas Lajes. Estas conversações levantam justificadas suspeitas, já que o presidente português se fez acompanhar de diversas personalidades (como Diogo Neto, da JSN, Sá Carneiro, ministro de Estado, e Hall Themido, embaixador em Washington), embora nenhuma tenha participado no encontro. Da reunião não saiu nenhum comunicado, nem os seus resultados foram dados a conhecer à JSN, ao Governo, Conselho de Estado ou ao MFA.

Encontro entre o presidente da República, António de Spínola, e o presidente norte-americano, Richard Nixon, na Ilha Terceira (Açores), 19 de junho de 1974.

#50anos25abril