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Os primeiros contactos com o PAIGC indiciaram as duas questões centrais das negociações:

 

  • Era urgente fazer a paz, o que passava pelo diálogo com os movimentos de libertação que tinham travado a luta armada;

  • Estes só aceitavam estabelecer o diálogo se Portugal reconhecesse o direito à independência e os movimentos de libertação como os legítimos representantes dos seus povos para as negociações.

Até à publicação da Lei n.º 7/74, apenas a UNITA, em Angola, aceitou subscrever com os portugueses um acordo de cessação das hostilidades.

O princípio de que a paz se negoceia entre quem está em guerra foi aceite pela generalidade dos responsáveis militares e políticos.

Nas zonas de combate, os militares, por sua iniciativa, foram tentando entendimentos locais com os guerrilheiros. Este foi um dos fatores que mais dividiram o MFA e Spínola. Levou mesmo a que o Presidente decidisse tomar em mãos os processos de Cabo Verde e Angola, depois de ter promulgado os acordos de Argel e Lusaca, relativos à independência da Guiné e à de Moçambique, respetivamente.

É nesta estratégia de Spínola que se inscreve o seu encontro com o Presidente do Zaire, Mobutu, no Sal, em 14 de setembro de 1974, que suscitou dúvidas ainda maiores que o encontro das Lajes com Nixon, visto que sobre o do Sal nunca foi revelada qualquer informação sobre o que se tratara.

A essa estratégia parece também ligado o 28 de Setembro, que, com a derrota e demissão de Spínola, ficou definitivamente enterrada.

Alguns analistas pretendem ligar o 28 de Setembro às tentativas golpistas de minorias brancas de Moçambique (7 de Setembro) e Angola (PCDA e FRA), mas tal não foi comprovado.

O projeto de Spínola – secundarizando os movimentos de libertação e privilegiando agrupamentos carecidos de representatividade e legitimidade –, era irrealista, pois exigia umas forças armadas fortes e motivadas para uma guerra cujo prolongamento era inevitável.

Cartaz da manifestação da «maioria silenciosa», 1974. Fonte: Biblioteca Nacional Cartaz da manifestação da «maioria silenciosa», 1974. Fonte: Biblioteca Nacional

Depois do 25 de Abril, outros fatores agravariam a situação no terreno:

  • Cisões no seio do MFA;

  • Sucessivas tentativas golpistas;

  • Desconfianças entre militares brancos e negros;

  • Interferência de forças políticas e dos movimentos de libertação;

  • Hostilização de populações brancas das colónias;

  • Instabilidade nas hierarquias e demissionismo de muitos escalões de comando;

  • Desmotivação pelo «fim da guerra à vista».

Esta debilidade pesou decisivamente em todas as negociações e afetou em especial a capacidade de resposta às intervenções armadas estrangeiras. Foram oficiais do MFA os que mais lutaram contra estes fatores de degradação, mas com reduzido êxito.

#50anos25abril