UM PAÍS QUE É A NOITE parte de um diálogo ficcional entre dois dos maiores poetas portugueses, Sophia de Mello Breyner Andresen e Jorge de Sena, horas antes de este último fugir para o Brasil.
No ano de 1959, Jorge de Sena, procurado pela PIDE, marca um encontro secreto com a sua amiga Sophia para se despedirem, mas o encontro é interrompido por dois agentes.
Esta pequena peça, de Tatiana Salem Levy e Flávia Lins e Silva, situa-se entre o drama histórico e o teatro documental e desenha um Portugal anacrónico e polarizado entre os que amam a poesia e os que a desprezam; entre os que pensam e os que cumprem ordens; os que querem ser livres e os que têm medo do desconhecido — a iminência de uma revolução democrática.
Este projeto reflete a tensão do período do Estado Novo, em que a liberdade se conquistava no silêncio de cada revolucionário em forma de palavras escritas prontas para serem disseminadas pelos que viviam despertos para o sonho.
Um retrato distante da contemporaneidade, mas que se aproxima, cada vez mais, do que nos ameaça diariamente: este pensamento em forma de pesadelo antecipado de que tudo pode, rapidamente, repetir-se num regresso ao terror dos velhos tempos de privação da liberdade individual.