Sessão com Fernando Mariano Cardeira em torno do livro“Crónica de uma Deserção. Retrato de um País”.
Nos últimos anos reacendeu-se em Portugal o interesse pelos testemunhos, escritos e orais, sobre a nossa história recente, sobretudo sobre os anos negros do Fascismo e da Guerra Colonial. As iniciativas públicas para dar palavra aos que tinham lutado contra o fascismo e contra a Guerra Colonial, têm sido escassas, talvez porque pareciam desnecessárias, ideia que tem vindo a ser desmentida por um crescente renascer de ideias fascistas que pensávamos enterradas para sempre.
O autor sentia a necessidade de uma clara afirmação da recusa da Guerra Colonial. Já em 1981, o autor escrevera uma carta ao diretor de O Jornal a propor a abordagem do assunto e a disponibilizar o seu arquivo documental. O Jornal publicou apenas uma pequena notícia com o título “Eu fui desertor”. Raramente é dada voz aos desertores e refratários que, aos milhares, recusaram participar na criminosa Guerra Colonial que Portugal conduziu em África durante quase 14 anos.
Quando começou a escrever, constatou que não podia resumir as suas memórias ao importante episódio da deserção coletiva em que participou em 1970. Sentiu então que era necessário ir mais além e deixar também um testemunho do que foi a sua vida até ao dia em que tomou a difícil decisão de deixar o país, a família e os amigos, para não ter que participar na guerra.