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Capa do Evento Lançamento do livro ‘Helena Ferreira. Branco sobre Branco’

Duas exposições e um processo artístico. Assim poderíamos descrever o projecto desenvolvido por Helena Ferreira que deu corpo a Branco sobre Branco, título, a um tempo, sintético e analítico, que reúne em livro o registo perene de duas exposições: As filhas de Léthê, apresentada na Galeria [PeP] do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), em Lisboa, entre Abril e Maio de 2024, no âmbito do projecto Chiado, Carmo, Paris e os Caminhos de Salgueiro Maia: 1974- 2024 e Olhar de volta, patente no Paiol de Castelo de Vide, entre Julho e Setembro de 2024.

Com curadoria de Lúcia Saldanha, do MNAC, as obras criadas por Helena Ferreira para ambas as exposições nascem do branco e crescem sobre essa mesma cor, assim operando na invisibilidade, antes de acolherem o negro (e o pontual azul) que, ao pousar sobre os contornos do gesso, as dá a ver. Abordando o apagamento da memória, problematizando a invisibilidade feminina e o decorrente anonimato das mulheres no discurso histórico e social, estes desenhos, ao revelar os contornos desses corpos e rostos, recuperam, de modo simbólico e estético, o identitário género do retrato para questionar a história.

Tema absolutamente pertinente, política e artisticamente, estes dois conjuntos de desenhos reafirmam a presença da memória das mulheres, enquanto construtoras do tecido social, em discurso directo ou indirecto. Num primeiro momento, As filhas de Léthê reapresentam-nos um grupo de operárias que se bateram pelos direitos laborais antes, durante e após a primeira República Portuguesa. No segundo, mais de cem anos passados, a série Olhar de volta oferece-nos imagens pessoais, familiares, de Natércia Salgueiro Maia, a partir de registos fotográficos de Salgueiro Maia. A mulher por trás do mito é, afinal, como não poderia deixar de ser, um ser de direito próprio, com contornos pessoais definidos e identitários. Suporte do símbolo da revolução de Abril, foi um acto de atenção pessoal o que levou a artista a indagar sobre aquela que sempre se fez sombra, que sempre esteve escondida à vista de todos, sem nunca reclamar a luz, acção que recorda o quanto das revoluções é feito no avesso da vida pública, na cumplicidade e no apoio que se dá na rectaguarda, desaparecendo com frequência não apenas da ribalta como da consciência colectiva.[…]

Emília Ferreira

Helena Ferreira. Branco sobre Branco/White on White, Emília Ferreira (coord.), Lisboa: Caleidoscópio.

#50anos25abril