A encruzilhada da memória é como uma rede que, com o passar do tempo, expande os seus nós. Ao explorar esteticamente a memória, Helena Ferreira desenvolve intervenções que se
configuram numa linguagem e num gesto caraterísticos de um processo percetivo e narrativo singular, recombinação da relação investigação-técnica-arte, raiz dos seus dispositivos desveladores de imagens. Singulares são também os próprios momentos da inauguração da exposição que concebeu e materializou, aproximando-se de um ritual mágico. Ao acionar-se a alavanca de cada dispositivo, as imagens são reveladas pelo visitante à medida que o pó de carvão percorre os sedimentos brancos do gesso, fazendo surgir e fixando memórias na superfície do papel.
O tema da invisibilidade feminina marca o trabalho desenvolvido pela artista para o projeto Chiado, Carmo, Paris e os Caminhos de Salgueiro Maia – 2024, num primeiro momento expositivo com a obra As filhas de Léthê, recentemente apresentada na Galeria PeP do Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa, e, agora, com Olhar de volta, no Paiol de Castelo de Vide, tratando-se, esta última, de uma homenagem a Natércia Salgueiro Maia pelo papel desempenhado na preservação da memória da revolução e do seu marido.
Os objetos expostos integram desenhos desenvolvidos a partir de fotografias de slide tiradas pela lente de uma Canonet QL19 que Salgueiro Maia utilizava para registar memórias da sua família. O ponto de vista de Fernando sobre a sua família, é aqui representado através do viewfinder da sua câmara fotográfica que encontra o olhar de Natércia que (nos) olha de volta.
