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Do baú da rádio renascem do silêncio as fitas originais onde ficou gravado o dia 25 de Abril de 1974. Uma oportunidade única para escutar o som da liberdade falada e inaugurada nas ruas pelas palavras do povo, dos militares e dos jornalistas.

Do Golpe à Revolução, do Terreiro do Paço ao Largo do Carmo, do amanhecer incrédulo ao romper da coragem, escutamos as vozes, o motor dos carros de combate, os passos em corrida, o rodopiar do helicóptero, as comunicações via rádio, os gritos, os vidros partidos, as perguntas e as respostas, os tiros, o megafone dos capitães, a agonia do regime, as dúvidas e as vontades, o assombro, a festa, a ideia de futuro, rua a rua.

Pela primeira vez desde a sua emissão original há mais de meio século, o trabalho de Pedro Laranjeira (1945-2015), Paulo Coelho e Adelino Gomes voltará a estar “no ar”, na íntegra, numa sessão de escuta coletiva com a presença dos autores. Ao fim da tarde do dia 25 de Abril de 2025, outra vez no Carmo, um anfiteatro de ouvintes senta-se à volta de uma máquina Revox mergulhando na escuta desta reportagem, o espelho sonoro que nos faz (re)entrar no dia que mudou as nossas vidas.

A REVOLUÇÃO GRAVADA NA FITA DO TEMPO

Quando, no Largo do Carmo, entre o meio dia e a uma da tarde, na primeira conferência de imprensa livre, o alferes Carlos Beato sussurrou ao microfone da rádio e a Salgueiro Maia “… e temos o povo…”, interrompendo o capitão de Abril enquanto este enunciava todas as forças que estavam do lado dos revoltosos, ficou registado para sempre o momento em que o golpe de estado começava a ser uma revolução pendurada nas árvores.

Estas quatro palavras “… e temos o povo…” são o ícone sonoro que capta a essência das quase quatro horas da primeira e mais completa montagem que o sonoplasta Pedro Laranjeira fez da reportagem realizada por ele, Paulo Coelho e Adelino Gomes, desde o início da manhã no Terreiro do Paço até à rendição de Marcelo Caetano, incluindo testemunhos, entrevistas e conversas que nunca mais voltaram a estar “no ar” desde que foram emitidos naquelas madrugadas iniciais, há 51 anos, no programa Limite na Rádio Renascença.

 

25 DE ABRIL, SEMPRE NO AR

Na véspera da sessão de escuta colectiva, no dia 24 de Abril, na biblioteca do Quartel da GNR no Carmo, Paulo Coelho, Adelino Gomes e os herdeiros de Pedro Laranjeira oferecem simbolicamente este histórico documento radiofónico à Comissão dos 50 anos do 25 de Abril, que o depositará no futuro Arquivo Nacional do Som, para preservação e fins de investigação. Estas bobinas não constituem apenas uma peça cimeira da história da rádio e do jornalismo em Portugal, mas são igualmente um exemplo raro, em todo o mundo, de um documento sonoro que ecoa tão de perto e de forma tão continuada e prolongada o dia decisivo de uma revolução. 

O projecto “… e temos o povo…” ganhou corpo como epílogo do ciclo de escuta “25 de Abril, sempre no ar – Les oeillets de la radio” que desde Fevereiro de 2024, no festival Longueur d’ondes, um dos maiores festivais de rádio do mundo, tem vindo a dar à escuta alguns dos grandes momentos radiofónicos criados antes, durante ou inspirados pela revolução dos cravos. Depois de Brest, em França, realizaram-se sessões de escuta colectiva no Museu do Aljube, em Lisboa, e no Teatro o Bando, em Palmela. 

#50anos25abril