Durante o Estado Novo, o jornal República deu voz à oposição democrática. Após a Revolução de Abril, seria o primeiro título da imprensa a ser publicado sem censura. Os conflitos laborais disputados no interior do jornal haveriam de trazê-lo para a ribalta política.


Estes consistiram numa crise desencadeada a 19 de maio de 1975 pela decisão da comissão coordenadora dos trabalhadores de demitir o seu diretor, Raul Rego, o diretor-adjunto, Vítor Direito, e o chefe de redação, João Gomes. Os três eram acusados de serem porta-vozes do PS.
Por nomeação da comissão de trabalhadores – composta na sua maioria por gráficos (próximos da UDP), administrativos e comerciais –, Álvaro Belo Marques, trabalhador administrativo do jornal, substituiu Raul Rego na direção do periódico.
A maioria dos jornalistas viria a opor-se à decisão, considerando que ela «amordaçava as vozes livres, senão as mais livres, do país». Rego e outros jornalistas que com ele se solidarizaram foram impedidos de sair das instalações do jornal.


Na sequência deste episódio, o PS emitiu um comunicado considerando o sucedido um ataque à liberdade de expressão. Deu-se também uma concentração junto às instalações do jornal, onde houve confrontos físicos. Entre a multidão, ouvia-se: «O República é do povo, não é de Moscovo».
Na madrugada seguinte, o comandante Jorge Correia Jesuíno, ministro da Comunicação Social, fez evacuar os tipógrafos e libertar os jornalistas. Ordenou ainda que o jornal fosse selado e os manifestantes dispersos.



