Em diversas investidas, a polícia de choque carrega sobre os estudantes no Estádio Universitário e no Campo Grande.
Nos dias seguintes, seguem-se mais cargas policiais para tentar acabar com as reuniões de estudantes e as manifestações de rua. A violência das autoridades é difícil de justificar, dado o caráter moderado das celebrações do Dia do Estudante.
Para muitos universitários, professores e alunos, o uso desmedido da força e a repressão sobre os estudantes são um momento de rutura e também um despertar de consciência.




Cerrando fileiras, as Associações de Estudantes de Lisboa e Coimbra declaram, a 26 de março, o “luto académico”.
O luto implica a greve geral às aulas, um direito que estava proibido durante o regime ditatorial. São lançados os primeiros comunicados e panfletos para divulgar as novas formas de protesto e apelar à unidade de estudantes e professores em defesa da autonomia universitária.
No entanto, havia esperança de suspender o luto e de remarcar as celebrações do Dia do Estudante. O Governo recua e aceita a celebração do Dia do Estudante a 7 e 8 de abril. Mas, a 5 de abril, o Dia do Estudante é novamente proibido com o falso argumento de que as autoridades não tinham conhecimento do programa das celebrações. Como vimos, o reitor da Universidade de Lisboa demite-se nesse dia. O luto académico é retomado.


Numa sociedade amordaçada, em que a discussão pública era uma prática incomum, a realização de plenários é uma inovação do movimento de 1962.
Esta é uma experiência marcante para milhares de estudantes, um exercício conquistado de liberdade.
No exterior das faculdades e no Estádio Universitário, os dirigentes associativos comunicam diretamente com uma crescente base estudantil e levam à votação as principais decisões sobre a resistência. Os melhores oradores revelam-se prontamente e transformam o discurso associativo. É necessário assegurar o equilíbrio difícil entre os grupos moderados e os grupos radicais. O tempo primaveril ajuda à mobilização e proporciona momentos decisivos, plenos de emoção, que mantêm a chama da revolta e a unidade dos estudantes.
PLENÁRIO NO ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO
24 de março de 1962. Fonte: FMSMB-DTR.


Os estudantes manifestam-se na rua. Inconformados com as decisões do Governo e com a campanha de desinformação lançada pela ditadura, procuram um diálogo com o poder.
A 10 de abril, é concedida uma audiência com o ministro da Presidência, Correia de Oliveira. Para grande desilusão dos estudantes, o ministro limita-se a ler uma declaração que já trazia escrita, onde sobressai esta frase: “O poder não deve ser desafiado, porque não pode ser vencido”. No dia 13 de abril, o Ministério da Educação Nacional anuncia a suspensão das direções das associações de estudantes e a proibição das atividades das Comissões Pró-Associação. A crise sobe de tom.
ESTUDANTES A CAMINHO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO NO CAMPO DE SANTANA, PASSANDO PELA AVENIDA DA REPÚBLICA.
6 de abril de 1962. Fonte: FMSMB-DTR.




Em Coimbra, o confronto agudiza-se entre a Associação Académica (AAC) e as autoridades universitárias.
Em Assembleia Magna (a reunião geral de alunos oficial, em Coimbra), é pedida a demissão do reitor, Guilherme Braga da Cruz, que, ao contrário de Marcelo Caetano, não se pronunciou a favor da defesa da autonomia universitária. A repressão não tarda. Além dos processos disciplinares, foi suspensa a direção da AAC e os seus estatutos foram revogados. À Secção de Futebol da Académica foi imposta uma comissão administrativa presidida por um militar, decisão que causou grande indignação.
Rui Namorado, 2012

Excerto do Comunicado
«Os estudantes pregaram as janelas e encheram com água algumas taças onde ensopariam os lenços para protegerem a boca e o nariz na iminência de um ataque com gases lacrimogéneos. Todavia, a polícia forçou a entrada por arrombamento e deu voz de prisão aos estudantes sem que estes, certos da sua razão, esboçassem o mais leve gesto de força.
Ao som do Hino Nacional começou a evacuação da sede em pequenos grupos, sucessivamente transferidos sob prisão para o quartel da Guarda Nacional Republicana. À saída, as nossas colegas universitárias foram vil e baixamente insultadas por alguns agentes. Neste momento encontram-se ainda presos em Lisboa cerca de 40 estudantes».

É no auge da crise académica que surge uma das mais difíceis escolhas. Devem os estudantes associar-se à celebração do 1.º de Maio, o dia dos trabalhadores?
Dias antes, as associações decidem suspender o luto académico. Ao fazê-lo, procuram defender-se da acusação de que estariam subordinadas à estratégia das organizações políticas clandestinas de oposição ao regime, em particular o Partido Comunista Português.
Esta decisão não impede a participação de estudantes nas manifestações na baixa da cidade de Lisboa, onde se registaram diversos confrontos com a polícia dos quais resultou um morto.
INCIDENTES NO 1º DE MAIO EM LISBOA.
Fonte: FMSMB-DTR.

