Na manhã de 11 de março de 1975, Lisboa é palco de inesperadas movimentações militares: uma parelha de T6 sobrevoa Lisboa a baixa altitude em ação de intimidação; cerca das 11h50, forças da Base Aérea n.º 3 atacam o Regimento de Artilharia Ligeira n.º 1 (RAL 1), provocando um morto e 14 feridos.
Depois de uma longa manhã de tensão e negociações, ao princípio da tarde o general António de Spínola e os principais implicados no golpe fogem para Espanha. Mal preparada, contando com escassos apoios e alegadamente precipitada por uma manobra de contra-informação, a intentona do 11 de Março falhara.
O 11 de Março de 1975 apenas é compreensível se analisarmos de uma forma mais ampla os acontecimentos e processos que tiveram lugar desde o 25 de Abril de 1974 e, em particular, a partir do 28 de Setembro.
Cartoon «Os Quatro Cavaleiros do após-colapso», alusivo aos acontecimentos do 28 de Setembro. Jornal do Fundão, 13 de outubro de 1974. Fonte: HML.
Alarmado com os rumores da «Matança da Páscoa», no final do dia 10 de março António de Spínola dirige-se para a Base Aérea n.º 3 (Tancos). De acordo com a informação de que dispunha, a Força Aérea estaria a preparar uma operação militar para impedir o avanço das forças radicais, contando com o apoio do Regimento de Caçadores Paraquedistas (RCP), da Escola Prática de Cavalaria (Santarém) e do Batalhão de Comandos n.º 11 (Amadora).
Uma das primeiras determinações da Assembleia é a elaboração de listas de implicados a prender e a demitir, assim como a dissolução dos conselhos de armas em que houvesse oficiais implicados. Determina-se também a nomeação de uma comissão de inquérito para um completo apuramento dos factos.
O Jornal do Fundão destaca as principais consequências do 11 de Março: a garantia de eleições, a aceleração do processo revolucionário, a institucionalização do MFA e a nacionalização da Banca. Jornal do Fundão, 23 de março de 1975. Fonte: HML.
Nas vésperas das eleições para a Assembleia Constituinte, o boletim Movimento publicou o «Relatório Preliminar sobre o golpe contra-revolucionário de 11 de Março de 1975”, o primeiro resultado da Comissão de Inquérito instituída. Movimento, 23 de abril de 1975. Fonte: FMSMB, Fundo Boletim MFA.
A Assembleia de 11-12 de março reforça ainda a necessidade de que as eleições se realizem no prazo estipulado pelo Programa do MFA; que o governo seja remodelado e instado a avançar com reformas socioeconómicas profundas; e, finalmente, que se institucionalize o MFA, com a criação do Conselho da Revolução.
O 11 de Março permitia, deste modo, fechar muitos dos debates que tinham animado a vida político-militar desde o 28 de Setembro.
Contreiras, Carlos de Almada (2019, coord.). A noite que mudou a Revolução de Abril: A Assembleia Militar de 11 de Março de 1975. Lisboa: Edições Colibri e Associação 25 de Abril.
Loff, Manuel (2022). “A revolução do 11 de Março ao 25 de Novembro de 1975: impulso, auge e reflexo” in Rosas, Fernando (coord.), Revolução Portuguesa 1974-1975. Lisboa: Tinta-da-China, pp. 75-120.
Marchi, Riccardo e Silva, Raquel da (2022). “Extreme-Right Violence in the Portuguese Transition to Democracy – Portugal’s Liberation Army (1974–1976)”. In Fascism: Journal of Comparative Fascist Studies, 11(1), 87-108. https://doi.org/10.1163/22116257-bja10037
Noronha, Ricardo (2016). “Anatomia de um golpe de Estado fracassado: 11 de março de 1975”. In Ler História, 69, 71-87. https://doi.org/10.4000/lerhistoria.2487
Noronha, Ricardo (2018). “A Banca ao Serviço do Povo”. Política e Economia durante o PREC (1974–75). Lisboa: Imprensa de História Contemporânea.
Rezola, Maria Inácia (2004). António de Spínola. Lisboa: Temas e Debates
Rezola, Maria Inácia (2007). 25 de Abril: Mitos de uma revolução. Lisboa: Esfera dos Livros.
Rezola, Maria Inácia (2017). “Crise de 11 de Março de 1975” in Reis, António; Santos, Paula Borges e Rezola, Maria Inácia, Dicionário de História de Portugal: o 25 de Abril (Volume III). Porto: Figueirinhas, pp. 34-43.
Rodrigues, Luís Nuno (2010). Spínola – Biografia. Lisboa: Esfera dos Livros.
Ruivo, Francisco Bairrão (2015). Spínola e a Revolução. Do 25 de Abril ao 11 de Março de 1975. Lisboa: Bertrand Editores.
Sánchez Cervello, Josep (1993). A Revolução Portuguesa e a sua influência na transição espanhola (1961-1976). Lisboa: Assírio e Alvim.
Reportagem do jornalista Adelino Gomes a partir das imediações do RAL1, no dia 11 de março de 1975. https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-11-de-marco/
Documentário sobre o 11 de Março (RTP, 2015). https://arquivos.rtp.pt/conteudos/matanca-da-pascoa-memorias-do-11-de-marco-de-1975/
Documentário de Jacinto Godinho, A Gravação Secreta da Assembleia “Selvagem”. https://www.rtp.pt/play/p5722/assembleia-selvagem
Testemunho do embaixador Seixas da Costa sobre a Assembleia do MFA de 11 de Março. https://duas-ou-tres.blogspot.com/2019/08/a-assembleia-do-11-de-marco.html
Relatório Diário da Situação Político-Militar Portuguesa. 11/12 de Março de 1975. 2ª Repartição do Estado Maior do Exército. https://arquivo-adn.defesa.gov.pt/viewer?id=3041
Comunicações dirigidas à Comissão Coordenadora do MFA sobre o 11 de Março, celebrando a vitória do MFA e saudando a nacionalização da banca. https://arquivo-adn.defesa.gov.pt/viewer?id=2840&FileID=127135
«Unidade Revolucionária» artigo do Boletim Movimento, oferecendo uma leitura de conjunto do processo revolucionário português até ao 11 de Março. Movimento, 25 de março de 1975. http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=04436.013#!1
Edição especial do Boletim Movimento, onde se publica o Relatório Preliminar dos acontecimentos do 11 de Março. Movimento, 23 de abril de 1975. http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=04436.016
