Ribeiro Santos, ativista estudantil e militante antifascista, era estudante universitário quando foi assassinado pela PIDE. Permanece como um ícone do movimento estudantil, cuja morte aos 26 anos se tornou bandeira da luta contra a ditadura.
José António Leitão Ribeiro Santos, nascido em 1946, era aluno do Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, quando se iniciou nas lides do movimento associativo estudantil. Ao entrar para a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa em 1965, em plena crise académica, continua a participar de forma muito ativa no movimento de contestação estudantil.
Data de 1967 o primeiro boletim de informação de Ribeiro Santos na PIDE. Na sequência das grandes cheias de Lisboa, Ribeiro Santos é identificado pela sua participação no movimento estudantil de apoio às vítimas. É um dos muitos estudantes que, ao prestar auxílio à população, se vê confrontado com um país que desconhecia, cujos problemas estavam muito para além das questões universitárias. Este choque com a realidade encontrada – centenas de mortos, milhares de desalojados em condições insalubres e um regime incapaz de prestar socorro, que abafa a situação censurando a cobertura noticiosa – radicaliza as reivindicações do movimento, o mesmo em que Ribeiro Santos estava empenhado.
Em 1969, inscreve-se como colaborador da Secção de Propaganda da AAFDL e é suspenso da faculdade pela interrupção das frequências de vinte “fura-greves”. No ano letivo de 1970-1971, é escolhido como vice-presidente das relações internas da Associação de Estudantes e, no ano seguinte, como delegado de curso, o primeiro eleito por unanimidade naquela faculdade. Seria ainda o representante de Direito na Livrelco, uma cooperativa universitária livreira congregadora da luta estudantil.
Ribeiro Santos está entre os estudantes que criam o movimento “Ousar Lutar, Ousar Vencer” na Faculdade de Direito. Em maio de 1972, torna-se militante da Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas (FEML), a organização para a juventude do MRPP, partido cujo núcleo da Faculdade de Direito integrou, com João Isidro e Saldanha Sanches.
É a sua casa que serve muitas vezes de centro de reuniões estudantis para se debaterem ações contra a repressão.
A 12 de Outubro, no decorrer de um meeting contra a repressão e o colonialismo nas instalações de “Económicas” – como era chamado o Instituto de Ciências Económicas e Financeiras de Lisboa (ISCEF), atualmente Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) -, alguns estudantes dão conta da presença de um desconhecido, cujas respostas incoerentes e ausência de identificação levam à suspeita de se tratar de um informador da PIDE.
Os estudantes decidem levá-lo ao gabinete do diretor da Faculdade para ser identificado, e concordam que sejam chamados elementos da PIDE-DGS para identificação do desconhecido. Ao chegarem, estes agentes dizem não reconhecer o colega, que insistem em levar ainda assim. Essa atuação gera desconfiança e indignação. Instala-se a confusão e um grupo avança sobre os agentes da PIDE presentes.
Um deles, António Gomes da Rocha, empunha a pistola e dispara contra os estudantes, atingindo Ribeiro Santos nas costas. José Lamego, que tenta manietá-lo e controlar a arma, é também atingido numa perna.
Ribeiro Santos é imediatamente levado ao Hospital de Santa Maria por colegas estudantes de Medicina, mas acaba por morrer ainda na sala de observações. Nessa mesma noite, 300 estudantes reunidos no Instituto Superior Técnico aprovam a paralisação da universidade e a ida em massa ao funeral.

O seu funeral, a 14 de Outubro, transforma-se numa manifestação generalizada de resistência e revolta contra a ditadura quando milhares de pessoas comparecem, concentrando-se à porta do prédio onde viveu e de onde iria sair o cortejo fúnebre, na Calçada do Largo de Santos (hoje, Calçada Ribeiro dos Santos, em sua homenagem).
No dia seguinte, a Universidade rompe em protestos de revolta. Por toda a cidade de Lisboa, realizam-se manifestações estudantis, e assiste-se a uma intensa distribuição de comunicados à população. Registam-se vários confrontos com a polícia e o apedrejamento de instalações governamentais e estabelecimentos bancários.
“O funeral foi uma manifestação de dor e de fúria que deve ter afligido o Governo mais do que qualquer outra coisa naquele ano. Os estudantes insistiram em levar o esquife aos ombros e enfrentaram corajosamente a polícia, que se escudava em absurdos regulamentos e se apresentou em quantidade”.
Teresa Pizarro Beleza, em outubro de 1992, num texto publicado no jornal Público “Ribeiro Santos: Lachrimae antiquae novae”.
Com a morte de Ribeiro Santos, o movimento estudantil e a luta contra o regime cerram fileiras. O seu assassinato agudiza a revolta dos estudantes, que alastra aos mais diferentes setores da sociedade portuguesa. “Vinguemos Ribeiro Santos” é a palavra de ordem que vai marcar o movimento até ao derrube da ditadura, com a Revolução do 25 de Abril.
O agente responsável pelo seu assassinato não chegou a ser levado a julgamento. E embora tenha sido preso em Alcoentre após o derrube da ditadura, fugiu em junho de 1975.


Recordar Ribeiro Santos:
Testemunhos
Aurora Rodrigues recorda contexto de 1972 e de como o assassinato do estudante Ribeiro Santos contribuiu para a radicalização da luta contra a ditadura.
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No 50.º aniversário do assassinato de Ribeiro Santos pela PIDE, José Galamba de Oliveira recorda o amigo e camarada de luta do movimento estudantil.
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A antropóloga Paula Godinho reflete sobre o papel decisivo que o assassinato de Ribeiro Santos pela PIDE teve na sociedade da altura e de como este acontecimento se deve inscrever hoje na memória pública de Portugal.
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