A Guerra
A justificação de uma guerra com a integridade de um império multicontinental e a recusa de negociações com os independentistas comportavam, para os militares portugueses, condições muito adversas.
A guerra processava-se em três territórios, de muito elevada dimensão, se comparados com Portugal continental, e com condições geográficas e climatéricas muito distintas.
Os teatros de operações eram descontínuos e distantes entre si e ainda mais distantes da sede do poder político e militar português, gerando problemas logísticos e agravando os custos financeiros. Nos cenários de guerra, movimentava-se mais do que um adversário, cujos métodos agravavam as formas e os processos de planificação.
A prossecução dos conflitos por uma década tornou o recrutamento um problema transversal a toda a sociedade portuguesa, afetando a relação com o regime político e a sua base de apoio.
As oposições
Para as correntes em oposição ao Salazarismo, a Guerra Colonial abriu uma nova e mais significativa frente de contestação. O Partido Comunista Português e os setores de matriz republicana, socialista e demoliberal introduziram o fim da guerra entre as suas reivindicações.
Entre os estudantes, sobretudo universitários, o recrutamento militar, a par da duração da permanência no teatro de guerra, tornou-se uma matéria cada vez mais sensível. A mobilização de novos setores em oposição declarada ao regime, a diversificação de métodos de contestação e a sua radicalização contribuíram para o alargamento da rutura com o regime ditatorial.
Os católicos: politização e luta contra a Guerra Colonial
A Guerra Colonial contribuiu decisivamente para a intensificação da politização de setores católicos portugueses.
Às declarações conjuntas de finais da década de 1950, sobretudo em torno da campanha presidencial de Humberto Delgado, com críticas ao regime político de Salazar, juntaram-se manifestos mais alargados, como foi o caso de um manifesto assinado por 101 católicos em 1965.
Revistas lançadas por católicos com significativo impacto público, como O Tempo e o Modo, e iniciativas como a Cooperativa Pragma permitiram alargar a base de contestação num setor usualmente tido como afeto ao regime. O mesmo se diga da produção e da difusão – mesmo que fortemente restringidas pelas instâncias de repressão do regime – de boletins com informações, dossiers sobre a Guerra Colonial portuguesa e reflexões sobre a doutrina pontifícia em torno de conflitos armados. São os casos de Direito à Informação, Cadernos GEDOC, Boletim Anti-Colonial ou Cadernos sobre a Guerra Colonial.
Figuras com posições de destaque no catolicismo e em rota de colisão com o regime e com a hierarquia legitimaram e intensificaram outras formas de dissidência política. O impacto público do caso do Padre Felicidade Alves constitui um dos momentos mais significativos desses processos.