Cobertura mediática: os primeiros dias
A vigília da Capela do Rato possuiu um impacto assinalável logo a partir do seu desfecho, cerca de 24 horas volvidas sobre o seu início. Entre as suas repercussões, situa-se o tratamento mediático, tanto em Portugal, como no estrangeiro. Apesar da censura e da propaganda do regime, a Guerra Colonial em Angola, na Guiné e em Moçambique, as suas justificações, os seus efeitos e os apelos internacionais à promoção de uma cultura de paz foram transportados para o plano da discussão pública em Portugal, alargando o espaço do debate em privado ou em grupos restritos. Também os pequenos boletins paroquiais, de caráter local e com circulação mais reduzida, deram eco à vigília e amplificaram as suas causas e efeitos.
Também na imprensa de Inglaterra, Itália, França, Alemanha, Escócia, Brasil e até da Espanha franquista foram referidos os acontecimentos do Rato, discutidos os seus contornos e comentadas as circunstâncias que justificaram a sua realização. A natureza do regime português e da guerra que se prolongava em África desde 1961, as relações entre a Igreja e o Estado e entre grupos de católicos e organizações políticas clandestinas, a invasão de uma capela pela polícia, o rebentamento de petardos com panfletos a divulgar a iniciativa, as prisões e demissões da função pública de participantes foram questões abordadas, com a tonalidade a ser conferida pela linha editorial de cada periódico.
A análise das notícias publicadas nos dias imediatamente a seguir ao evento, na imprensa nacional e internacional, deixa patente a sua ampla repercussão.
Apoios à vigília
Os primeiros apoios à realização da vigília da Capela do Rato vieram de grupos de católicos do Porto. Multiplicaram-se os relatos das circunstâncias e dos seus efeitos políticos. A própria comunidade do Rato se pronunciou e informou sobre o curso dos acontecimentos. Entre os destinatários encontravam-se as autoridades eclesiásticas, incluindo a Nunciatura Apostólica, os titulares de órgãos do poder político e os diretores de órgãos da imprensa.
Mesmo que na clandestinidade ou no exílio, as organizações partidárias e cívicas em oposição à ditadura expressaram o seu apoio à realização da vigília, protestaram contra a repressão do regime sobre os participantes e exigiram o termo da Guerra Colonial. São os casos do Partido Comunista Português (PCP), da Ação Socialista Portuguesa (ASP), da Comissão Democrática Eleitoral (CDE) ou da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos (CNSPP). Organizações estudantis e sindicais distribuíram as moções aprovadas no Rato e reclamaram a libertação dos presos pela polícia política. Também do estrangeiro vieram apoios aos participantes na vigília e ações de contestação da repressão exercida pelo regime. Amnistia Internacional, Peace Committee of Finland, British Columbia Peace Council ou World Pax foram algumas das organizações que se pronunciaram publicamente, incluindo uma participação no Comité dos Direitos Humanos da ONU.