Do ponto de vista político e social, o ambiente que se vivia durante o ano de 1973 está bastante distante do verificado no início do governo de Marcelo Caetano, a chamada Primavera Marcelista, uma expetativa de mudança.
Ilustram esta realidade episódios como a Vigília da Capela do Rato, em janeiro, a que a Polícia pôs fim entrando na igreja e detendo os participantes num protesto pacífico; o abandono de São Bento por parte de Francisco Sá Carneiro e de João Pedro Miller Guerra (deputados da «Ala Liberal»), em janeiro e fevereiro, respetivamente, por verem gorados todos os esforços de liberalização do regime; ou o Terceiro Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, em abril, que terminou com uma brutal investida da política de choque perante uma romagem pacífica dos participantes ao túmulo de Mário Sacramento, médico e escritor comunista que morrera poucos anos antes, em 1969.
O regime estava também progressivamente mais isolado no panorama internacional, dada a sua persistência em relação à manutenção das colónias. A Organização das Nações Unidas (ONU), onde os jovens países africanos aumentaram exponencialmente a sua presença em 1960, tornou-se o principal campo de batalha diplomática contra o colonialismo português. Os movimentos independentistas deram um contributo decisivo para esta evolução. Neste contexto, a figura de Amílcar Cabral, fundador do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), é incontornável, assim como a de muitos outros dirigentes e fundadores dos movimentos de libertação das colónias portuguesas.
A Primavera Marcelista possibilitou a revitalização de vários sectores oposicionistas e sindicais e uma nova época de protesto que se traduziu em reivindicações, greves e outras formas de mobilização. Entre 1968 e 1974, registaram-se mais de 300 greves.
A esta tendência não é alheio o agravamento progressivo da situação económica do país. Apesar de um bom desempenho nos primeiros anos do consulado Marcelista, o impacto da crise petrolífera de 1973 deixa patentes as debilidades e deficiências estruturais da economia portuguesa.
O Movimento dos Capitães surge, assim, num país governado por um regime que caíra num impasse, incapaz de encontrar respostas para a crise que se abria em todas estas frentes.