«A Revolução dentro da Revolução» apresentado em Lisboa
A obra «A Revolução dentro da Revolução — O Controlo Operário no Portugal Rural», de Nancy Bermeo, foi apresentada em Lisboa este sábado, dia 9 de novembro, no âmbito da Exposição «Às Armas ou às Urnas – Povo, MFA e Forças Armadas: entre revolução e democracia (1974-1982)».
Fotografias: Cláudia Teixeira | Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril
«A Revolução dentro da Revolução — O Controlo Operário no Portugal Rural» é o sexto volume da coleção «O 25 de Abril Visto de Fora», que contempla a publicação de dez obras alusivas à Revolução e à consolidação da democracia em Portugal até agora inéditas em português, a maioria de autores estrangeiros, acompanhando o programa das Comemorações dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril.
A sessão, que teve lugar no Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), contou com a presença dos investigadores Dulce Freire, Michael Baum e António Costa Pinto.
“A publicação destas obras em português fez falta ao debate político”
Dulce Freire enquadrou esta obra enquanto “parte do interesse que a transição portuguesa despertou lá fora”, considerando que a publicação em português destas obras, produzidas por investigadores estrangeiros sobre a Revolução, “fez falta ao debate político”.
“O livro dá-nos uma visão mais estatal, ao contrário de outros estudos que estão mais focados nos movimentos sociais. É também uma fonte histórica: ouviu fontes com as quais já não podemos falar, fez observação que nós não podemos fazer, e teve acesso a relatórios a que hoje não temos, cujo paradeiro se desconhece”, afirmou a investigadora.
Michael Baum referiu que foi este livro que o fez ficar fascinado sobre o tema. “É um livro incrivelmente bem escrito e teoricamente muito bem fundamentado.” De tal forma, que decidiu retomar o tema enquanto investigador. “Decidi focar-me no longo prazo, nos efeitos da autogestão, mas usei muitas das perguntas que Nancy Bermeo usou, e que estão no apêndice do livro e acrescentei outras”, recordou.
“Quis perceber qual era o efeito da participação nas unidades de controlo de produção em Portel na perspetiva política das pessoas. Por isso, mais de metade da amostra eram pessoas que tinham tido essa experiência e as restantes não. Em quase 95% dos itens não havia diferenças significativas em 1993”, concluiu.
António Costa Pinto, coordenador da coleção «O 25 de Abril Visto de Fora», partilhou com os presentes que o próximo livro a ser publicado é, como este, “um livro num certo sentido pioneiro.” Trata-se de um livro da autoria de Thomas C. Bruneau e Alex Macleod, Politics in Contemporary Portugal. “São de Bruneau os primeiros grandes estudos de opinião pública sobre política, valores e descolonização”, afirmou.
O Livro
«A Revolução Dentro da Revolução» é uma análise da reforma e revolução no mundo rural português e tem como tema central o controlo operário, ou seja, a gestão e o usufruto coletivos dos bens de produção.
A investigação responde a três perguntas que estão interligadas. A primeira, o que levou os assalariados rurais do sul a contestar as relações de propriedade e a criar herdades geridas por trabalhadores? A segunda, quais as repercussões a nível micro das unidades cooperativas geridas por trabalhadores, após a sua criação? Por último, qual era a natureza da interação entre as cooperativas e o sistema estatal no qual estavam inseridas? Como se desenvolveram no Estado pós-revolucionário?
A Autora
Nancy Bermeo é uma cientista política norte-americana e é investigadora principal do Nuttfield College da Universidade de Oxford, onde foi responsável pela disciplina de Política Comparada. O seu trabalho foca-se nas causas e consequências das mudanças de regime.
«A Revolução Dentro da Revolução» foi o seu primeiro livro, resultado da tese de doutoramento que defendeu na Universidade de Yale, e Ordinary People in Extraordinary Times (Princeton, 2003), um dos mais recentes, foi distinguido com o Prémio Best Book na área de Comparative Democratization pela American Political Science Association.
O 25 de Abril Visto de Fora
A coleção «O 25 de Abril Visto de Fora» é uma iniciativa da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril em parceria com a editora Tinta-da-china. Contempla um total de dez obras alusivas à Revolução e à consolidação da democracia em Portugal até agora inéditas em português, a maioria de autores estrangeiros. A publicação dos volumes vai decorrer até 2026, acompanhando o programa das Comemorações dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril.
«Às Armas ou às Urnas»: visitas guiadas e «Histórias Cruzadas»
Esta apresentação é parte integrante da programação da Exposição «Às Armas ou às Urnas – Povo, MFA e Forças Armadas: entre revolução e democracia (1974-1982)», desenvolvida pela Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril. Esta exposição aborda a relação entre militares e civis durante o período revolucionário e de transição democrática.
Poderá ser visitada até 16 de fevereiro de 2025, de terça-feira a domingo, entre as 10h e as 17h00, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa. A entrada é gratuita.
Há visitas guiadas previstas para os dias 15 de dezembro, 12 de janeiro e 9 de fevereiro, às 10h00 e às 11h30.
No dia 17 de novembro, às 10h30, tem lugar uma visita guiada especial, sobre o tema «Histórias Cruzadas». Esta sessão procura destacar outros olhares sobre o período que a Exposição aborda, olhando para as histórias queer, global e rural da democratização portuguesa com a ajuda de jovens investigadores que se têm dedicado a estas perspetivas. Conta com a presença de Gonçalo Margato, curador da Exposição, Joana Matias (IHC-NOVA-FCSH), Leonardo Aboim Pires (GHES/CSG – ISEG/UL) e Rita Lucas Narra (IHC-NOVA-FCSH).
Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril até 2026
As Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril tiveram início em março de 2022 e vão decorrer até 2026. Cada ano foca-se num tema prioritário, tendo como objetivo reforçar a memória e enfatizar a relevância atual destes acontecimentos na construção e afirmação da democracia.
O período inicial das Comemorações foi dedicado aos movimentos sociais e políticos que criaram as condições para o golpe militar. A partir de 2024, revisitam-se os três ‘D’ do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA), em iniciativas que evocam o processo de descolonização, a democratização e o desenvolvimento.