Académica venceu, no campo da liberdade
Alberto Martins, ex-dirigente estudantil, recorda Final da Taça de 1969, no Jamor.
Alberto Martins, dirigente estudantil da Associação Académica de Coimbra em 1969, recorda a final da Taça de futebol desse ano, que ficou para a História como um dos momentos mais marcantes da contestação à ditadura.
A final da Taça de 1969, entre Académica e Benfica, foi “um momento em que os estudantes conseguem dar notícia pública das suas manifestações, do seu combate e da sua luta, e fazem-no num campo de futebol e num momento maior do desporto português”, assinala.
O ex-ministro e ex-deputado realça ainda que o episódio teve “tal relevância” que os dirigentes da ditadura não estiveram no Jamor, como era hábito, e nem a televisão transmitiu a final, “com medo de que o que se ia passar no estádio pudesse serconhecido do povo português”.
Ora, aquele momento “muito singular e de grande importância” acabou por ir sendoconhecido, através de fotografias, da oralidade e de “notícias esparsas”, que foram replicando as palavras de ordem dos estudantes: “Mais ensino e melhor ensino/Menos polícias/Universidade para o povo/Liberdade para os estudantes presos.”
E, com isso, a luta dos estudantes de Coimbra saiu do espaço da Universidade e da cidade para o país.
O que se passou no campo de futebol também foi singular, recorda Alberto Martins, referindo-se à troca de camisolas entre os jogadores das duas equipas e ao facto de a Académica ter mostrado a Taça, apesar de perdido o jogo.
“O vencedor, no campo do futebol, é o Benfica, o vencedor, no campo liberdade, da democracia e do futuro, é a Académica”, ressalva.“Não tenho dúvidas de que este e outros momentos foram afluentes do rio da liberdade que passou no 25 de Abril”, caracteriza.