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Ação estudantil na final da Taça de 1969 expôs o regime

Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, participa na Conversa “Academia em Jogo” e partilha as suas memórias.

 

O Presidente da República partilhou memórias da final da Taça de Portugal de 1969, assinalando que essa partida de futebol projetou a luta estudantil para todo o país.

A final da Taça de futebol de 1969 “é um momento que ultrapassa a Academia” e “vai dar amplitude nacional e deixar o Governo exposto publicamente perante um movimento estudantil de massas, o que nunca tinha acontecido, nem sequer em 1962”, recorda.

Em 1969, Marcelo Rebelo de Sousa estava no 3.º ano da Faculdade de Direito de Lisboa e já havia testemunhado, enquanto aluno de liceu, a crise estudantil de 1962.

Porém, “1969 é particularmente importante” e, aí, o jogo de futebol que opôs Académica e Benfica teve “um valor acrescido”, porque a final da Taça de Portugal “tem sempre eco público”, realça.

Foi uma “manifestação que era impossível proibir”, algo “único na história da ditadura”, destaca, recordando a reivindicação estudantil “Menos polícia, melhor ensino”.

A ditadura deve ter pensado que suavizaria o impacto ao proibir a televisão de emitir a final e ao “desgraduar” a presença dos seus representantes na final (a que habitualmente assistia o chefe de Estado).

“As ditaduras têm muita dificuldade, (…) diria mesmo impossibilidade, em lidar com a liberdade”, nota Marcelo Rebelo de Sousa.

“Essa é a diferença entre democracia e ditadura. Na ditadura, numa situação potencialmente complicada, a solução fácil é não ir, é tentar apagar, é disfarçar, é fingir que não existe”, distingue.

O que se passou na Taça de 1969 é “um bom exemplo de exercício de responsabilidade política no futebol”, destaca o Presidente, sublinhando os testemunhos de António Oliveira (mais conhecido como Toni) e Mário Campos sobre os bastidores daquela final e destacando o papel de Alberto Martins – “não há líder sem movimento, mas ajuda muito haver movimento com líder”.

“A democracia, todos os dias, para usar uma imagem futebolística, ou ganha ou perde, não há empates”

A este propósito, o Presidente da República elogiou a exposição “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril”, iniciativa da Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de Abril, patente no Museu Nacional de História Natural e da Ciência até 28 de agosto.

“Este momento e esta exposição são uma vitória, são um golo para a democracia – e a democracia precisa que se vá metendo golos todos os dias. Já bastam os golos que sofremos de vez em quando, pela vivência democrática, porque, em democracia, não é possível apagar os golos que se sofrem. Em ditadura, é possível, com a censura, cortar a história daquilo que não interessa que se saiba, mesmo no futebol”
— Marcelo Rebelo de Sousa

#50anos25abril