À beira dos 50 anos do fim do colonialismo português há, ainda, histórias que não se contam. Ou que, contando-se, evitam a crueza da realidade por onde se esconde a culpa, a exploração, o racismo, a negligência. Se muitos dos que as viveram preferiram calar o passado, há hoje uma geração que tem essa história por herança e que escolhe perguntar.
“A Nossa Última Manhã Aqui” recupera o percurso de uma família que quis fugir à pobreza e que, como tantas outras, encontrou refúgio numa terra tão distante quanto fértil, mas que se dizia ser portuguesa: Moçambique.
É contado o particular dessas vidas, mas sobretudo os meandros da sua vivência, da descoberta, do esforço, do racismo velado pela normalidade, das nuances sentimentais que se escondem por de trás dos fenómenos históricos.
Há, contudo, no meio de cartas, fotografias, memórias difusas, qualquer coisa que se ouve, não sendo dita.
Entre a palavra e o silêncio, esta peça tenta fazer a travessia de um entendimento honesto. E, com alguma sorte, levar-nos a nós com ela.