De acordo com uma lista de filmes importados para Portugal entre 1940 e 1970, fornecida pelo arquivo da Torre do Tombo, foram submetidos ao Secretariado Nacional de Informação (SNI) 4866 filmes, dos quais apenas 271 estrearam sem cortes. A vigência do SNI impôs uma inspecção apertada que, por vezes, resultava na auto-censura das próprias distribuidoras de cinema, que receavam ver os seus filmes proibidos.
Um género que “colocava muitos problemas” entre distribuidores e censores era, sem dúvida, o terror. Neste período de 30 anos, apenas 23 filmes de terror foram enviados à censura, 16 foram totalmente proibidos e apenas um estreou sem cortes, a produção Hammer “Dracula has Risen from the Grave” (1968), de Freddie Francis.
Pode-se concluir, a partir destes números, que parte da carência de tradição cinematográfica neste género em Portugal deve-se também (e sobretudo) à falta de acesso aos filmes produzidos domesticamente e no estrangeiro. São muitas as histórias do cinema português que ainda estão por escrever: uma delas será sobre a distribuição filmográfica no nosso país, em particular, no cinema de género.
Para orientar os censores foram criadas “Directrizes para uso da Censura Cinematográfica”, mas, ao lermos as lacónicas avaliações dos filmes às quais se juntam algumas queixas de distribuidoras, depreende-se que alguns critérios eram bastante subjectivos. A principal argumentação de veto a um filme de terror estava geralmente relacionada com questões religiosas e morais.
Neste ciclo, dos 16 filmes de terror proibidos pelo SNI, iremos exibir o terror neo-realista de “Il Demonio”, de Brunello Rondi, argumentista de “La Dolce Vita” e “8 ½”; o único filme de zombies da Hammer Films “The Plague of the Zombies”, de John Gilling; a obra-prima oculta do true crime britânico “10 Rillington Place”, de Richard Fleischer, com Sir Richard Attenborough no papel do serial killer John Christie; o onírico/erótico/gótico “Valerie and Her Week of Wonders”, clássico de culto do checo Jaromil Jireš; e, finalmente, uma sessão surpresa com um filme cuja história da sua censura destoa de todas as outras, pois foi a própria distribuidora que requeriu a proibição do filme. Esta última sessão do ciclo terá lugar na sala Rank do Cinema São Jorge, de apenas 20 lugares, onde, segundo reza a lenda, o SNI fazia as sessões com os seus censores e onde até o próprio ditador terá visto filmes.