https://agenda.50anos25abril.pt/wp-content/uploads/2023/12/social_share_universidade_chave_para_futuro.jpg Abrir caminhos para melhorar a produção de ciência nas universidades públicas portuguesas é o principal objetivo do Encontro Nacional “Universidades: Chave para o Futuro” que se irá realizar no Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, no próximo dia 7 de dezembro.
O encontro é organizado pelo Iscte em parceria com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas – CRUP, a Comissão dos 50 anos do 25 de Abril e a RTP, tendo o alto patrocínio da Presidência da República.
Cinquenta anos volvidos sobre a criação do ISCTE, podemos concluir que a universidade, através das novas e das antigas instituições, desempenhou um papel decisivo na modernização do país. Formaram-se milhares de médicos, engenheiros, juristas, gestores, professores e outros diplomados que qualificam as instituições onde exercem a sua profissão. Formaram-se milhares de investigadores que integram o sistema científico e tecnológico do país produzindo-se mais e melhor ciência.
A produção de conhecimento científico, de mais e melhor ciência é talvez o desafio mais relevante para o futuro. Este desafio não se colocava à universidade há 50 anos, foi-se afirmando como um imperativo ao longo do percurso, e, não tendo deixado de ser encarado pela universidade, teve respostas difíceis e caminhos ínvios. Porém, hoje a universidade tem um papel central na produção de ciência, através dos seus 200 centros de investigação, classificados com Muito Bom ou Excelente, onde se desenvolvem cerca de 40% das atividades de I&D a nível nacional. Serão decisivos o reconhecimento do papel da universidade na produção de conhecimento, de ciência, a criação de condições para que as universidades possam contribuir para o alargamento das fronteiras do conhecimento em todas as áreas de saber, incorporando na sua estratégia de desenvolvimento, as questões do emprego e do desenvolvimento científico das unidades de investigação a que estão ligadas.
Paralelamente muitas outros desafios se colocam. As exigências de desempenho pela universidade de um papel social, de diálogo com a sociedade, de envolvimento na resolução de problemas económicos, sociais e tecnológicos, através da produção de conhecimento aplicável e útil, não sendo novidade, pressionam no sentido da alteração do equilíbrio de poderes no que respeita à autonomia relativa e à especialização institucional e funcional que hoje prevalece. É também um desafio a compaginação do aprofundamento do conhecimento disciplinar e a aquisição de competências altamente especializadas, com a necessidade de diálogo e de cruzamento interdisciplinar, de compreensão alargada de problemas para cuja resolução são convocados diferentes saberes.
As questões relacionadas com a especificidade da universidade, enquanto instituição, com autonomia pedagógica, científica e de governação, no que respeita aos modelos de financiamento, isto é, o debate sobre a quem pertence ou deve pertencer a responsabilidade de decidir e de custear o investimento na universidade enquanto bem público, mantém-se como temas de debate político.
Podemos ainda referir a questão do mérito no acesso e no sucesso: as universidades têm sido o local e o instrumento de homogeneização da meritocracia, isto é, da medida do mérito, tendencialmente, de modo unidimensional e quantitativo, no acesso, na organização das suas atividades e na valorização dos diplomas que outorga, existindo riscos de redução da diversidade e de desvalorização das dimensões qualitativas e dos saberes associados ao fazer, bem como riscos de “estagnação educativa”. Por outro lado, os caminhos da digitalização do ensino que, potenciando o ensino a distância e não presencial, a autoaprendizagem e permitindo o acesso aberto a todo o conhecimento, questionam princípios decorrentes da ideia de campus, da funcionalidade de espaços físicos e laboratoriais, de troca e de interação alargada, como também a organização pedagógica e curricular das formações disponíveis. Porém, em contrapartida podem ser um instrumento importante para enfrentar o desafio da aprendizagem ao longo da vida e de alargamento dos públicos, designadamente os adultos inseridos no mercado de trabalho.
A partir desta reflexão definiram-se 4 painéis temáticos e uma mesa-redonda, em torno dos quais se organiza o Encontro. Para cada um dos painéis, será apresentado um documento de base para lançar o debate, da responsabilidade de um perito, sendo o mesmo discutido por um painel de convidados com responsabilidades de decisão.
PROGRAMA
09h30 Abertura
António Sousa Pereira (Presidente do CRUP)
Maria de Lurdes Rodrigues (Reitora do Iscte)
Pedro Adão e Silva (Ministro da Cultura)
10h00 Conferência de Abertura : Desafios Futuros da Universidade
Augusto Santos Silva (Presidente da Assembleia da República)
10h30 Articulação entre a produção de conhecimento, difusão e transferência para a sociedade
Há muito que a universidade deixou de ser apenas um espaço de transmissão de conhecimento, há muito que deixou de ser apenas uma escola ou um espaço de difusão de conhecimento através do ensino. As exigências de desempenho pela universidade de um papel social, de diálogo com a sociedade, de envolvimento na resolução de problemas económicos, sociais e tecnológicos, através da produção de conhecimento aplicável e útil, não sendo novidade, pressionam no sentido da alteração do equilíbrio de poderes que respeita à autonomia relativa e à especialização institucional e funcional das universidades que hoje prevalece. Como se desenharão os novos equilíbrios? Como se preservará o espaço de autonomia da agenda científica necessário à produção e aprofundamento de conhecimento, com a incorporação de uma agenda de problemas de interesse público, social e económico e em que condições podem/devem ser definidas tais agendas? Como se organizará o trabalho académico de ensino, de investigação e de transferência de conhecimento, bem como a governação das instituições, tendo em conta estas exigências?
Documento para lançar o debate: Pedro Saraiva (Univ. Nova)
Coordenação do debate: Rui Vieira de Castro (Reitor Univ. Minho)
Participantes no debate: Nuno Bicho (Univ. AL), Maria João Pires Rosa (Univ. Aveiro), Ricardo Paes Mamede (Iscte), Cláudia Cavadas (Univ. Coimbra).
12h00 Internacionalização e o português como língua de conhecimento
O aprofundamento da integração da universidade portuguesa no espaço europeu e a abertura a outros espaços geoestratégicos, em que o inglês é a língua franca por excelência, constitui um desafio que merece reflexão. Será um cenário plausível imaginar que na universidade portuguesa, no futuro, se ensine e investigue apenas em língua inglesa? Em muitos países da Europa, a globalização associada às dinâmicas de internacionalização da universidade gerou a progressiva adoção do inglês como língua de ensino e de investigação, sendo a única língua usada em muitas instituições. Em Portugal este movimento tem alguma expressão, registando-se na universidade um esforço de organização de oferta formativa em língua inglesa. Contudo, sendo o português a terceira língua mais falada no mundo e existindo uma importante procura de informação e conhecimento em português, o desafio que se coloca à universidade portuguesa é o de responder através da valorização do português como língua de ciência e de acesso ao conhecimento. Que políticas públicas são necessárias? Que alianças devem ser promovidas com países que têm o português como língua oficial ou países de línguas latinas, designadamente o castelhano? Como se articula esta dimensão com os desenvolvimentos ao nível da digitalização e do seu impacto na formação superior?
Documento para lançar o debate: Margarita Correia (Univ. Lisboa)
Coordenação do debate: Hermínia Vilar (Reitora Un Évora)
Participantes no debate: António Fidalgo (Univ. Beira Interior), António Branco (Univ. Lisboa), Ana Paula Laborinho (OIE), Isabel M. Duarte (Univ Porto)
13h30 Almoço volante
14h30 O futuro do mérito e da meritocracia no acesso e no sucesso
O desenvolvimento da educação básica e secundária foi impelido por princípios democráticos, igualitários, inscrevendo-se na sua natureza a aquisição de conhecimentos e competências necessários à participação cívica e económica de todos os cidadãos. Pelo contrário, o sistema universitário é, por natureza, múltiplo e estratificado orientado para a formação de elites, baseando-se o seu desenvolvimento em princípios de seleção meritocrática. Hoje questionam-se as implicações antidemocráticas de tal desenvolvimento. Por um lado, porque parece estar a atingir-se o que alguns autores designam como “estagnação educativa” que exclui do acesso à universidade, à informação e ao conhecimento segmentos significativos da população. Por outro, porque o mérito medido com base quase exclusivamente em testes e exames gera enormes riscos de redução da diversidade e de desvalorização das dimensões qualitativas e dos saberes associados ao fazer, não substituindo nem eliminando os processos de seleção baseados nos legados e nas heranças sociais. A universidade têm sido o local e o instrumento de homogeneização da meritocracia, medindo o mérito, tendencialmente, de modo unidimensional e quantitativo, no acesso, na organização das suas atividades e na valorização dos diplomas que outorga. Em que medida este debate afeta a imagem da universidade? Quais são as alternativas, as escolhas, que se oferecem? O desenvolvimento dos processos e oportunidades de aprendizagem ao longo da vida podem permitir ultrapassar os riscos identificados?
Documento para lançar o debate: Paulo Pedroso (Iscte)
Coordenação do debate: João Sáàgua (Reitor Univ. Nova)
Participantes no debate: Alexandra Leitão (Univ. Lisboa), António Magalhães (Univ. Porto), Tiago Neves Sequeira (Univ. Coimbra), Margarida Mano (Univ. Católica).
16h00 O espaço da inovação pedagógica no contexto da digitalização do ensino
Há hoje instituições de ensino superior com elevada reputação, que oferecem cursos on-line que podem ser seguidos ou frequentados gratuitamente; para conseguir o diploma deverá o estudante pagar a propina e deslocar-se à universidade para realizar um exame. Os caminhos da digitalização do ensino, potenciando um ensino a distância e não presencial, de autoaprendizagem individual e permitindo o acesso aberto a todo o conhecimento, questionam princípios decorrentes da ideia de campus, da funcionalidade de espaços físicos e laboratoriais, de troca e de interação alargada, como também a organização pedagógica e curricular das formações disponíveis. O futuro trará um cenário de generalização de um ensino “self service” em que a universidade reduz a sua atividade a cadeias de produção de cursos e de materiais pedagógicos oferecidos em sites interativos, dispondo de salas para a realização de exames presenciais? Ou as tecnologias digitais serão sobretudo um instrumento complementar dos processos tradicionais de ensino e de aprendizagem? Sendo a socialização e o interconhecimento uma dimensão essencial na formação das elites, corremos o risco de o acesso ao ensino presencial ficar mais reservado? Podem as tecnologias digitais ser um instrumento importante para enfrentar o desafio da aprendizagem ao longo da vida e de alargamento dos públicos, designadamente os adultos inseridos no mercado de trabalho? Ou, pelo contrário serão um instrumento de reprodução ou mesmo de amplificação das desigualdades?
Documento para lançar o debate: Manuel João Costa (Univ. Minho)
Coordenação do debate: Amílcar Falcão (Reitor Univ. Coimbra)
Participantes no debate: Carla Oliveira (Reitora Univ. Aberta), Sofia Marques da Silva (Univ. Porto), Fernando Remião (Univ. Porto), Paulo Quaresma (Univ. Évora).
17h30 Mesa-redonda: Mais ciência na Universidade
Intervenção: Carlos Moedas (Presidente da Câmara Municipal de Lisboa)
Desde 2002 que o Ensino Superior e a Ciência se encontrarem reunidos no mesmo ministério, mas têm faltado políticas que promovam a articulação entre os dois sectores. As universidades são hoje responsáveis pela execução de 40% da despesa em atividades de I%D. Sobretudo numa altura em que os financiamentos da FCT são claramente insuficientes e desajustados, não garantindo sequer o funcionamento regular das infraestruturas científicas, tem sentido debater temas como o da articulação entre a carreira docente e a carreira de investigação, a atribuição às universidades de uma dotação orçamental consignada ao desenvolvimento da investigação e ciência.
Políticas que reconheçam o papel das universidades na ciência permitiriam às universidades, por exemplo, definirem estratégias de internacionalização das equipas e centros de investigação, terem condições para fazerem melhor, em domínios como o do estímulo ao emprego científico, o apoio a áreas do conhecimento emergentes ou o desenvolvimento de projetos de investigação estratégicos para as instituições ou para o país.
O debate tem como principal objetivo contribuir para a definição de uma agenda a apresentar à tutela para desenvolvimento no próximo ciclo governativo.
Coordenação do debate: Luís Ferreira (Reitor Univ. Lisboa)
Participantes no debate: (a definir) Vice-reitores de 4 universidades, com o pelouro da investigação
18h30 Intervenção: Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa
18h30 Encerramento
Elvira Fortunato (Ministra da Ciência e do Ensino Superior)