África de passagem, Moçambique 1970–1973. Como milhares de portugueses, Mário Martins foi chamado para a Guerra Colonial em 1970, mobilizado contra a sua vontade. Esteve em Moçambique numa companhia de intervenção independente, em operações no Niassa, Zambézia e Tete. Entre as agruras da guerra, do isolamento, das operações, encontrou um mundo fascinante de paisagens luminosas e de olhares intensos, que nunca deixavam de sorrir. E que o prenderam num objectivo: fixá-los. De arma em punho e máquina a tiracolo, foi capturando esses momentos singulares, seguindo o acaso dos acontecimentos, motivado pela expressão humana, pelo estado de espírito e pela condição social. Mostram-se agora esses registos visuais, para que a memória não se perca. Um testemunho simples de um momento da história, sem pretensões; o epílogo desta passagem.
Um ensaio visual sobre a experiência da Guerra Colonial em formato de exposição, na sequência da publicação homónima, apresentada em 2022 na Biblioteca Municipal de Vila do Conde, com o apoio deste Município, da Associação 25 de Abril e do Museu da Guerra Colonial, reunindo contributos da antropóloga e investigadora Maria José Lobo Antunes e do Capitão de Abril e historiador Aniceto Afonso.
“Não se trata de um soldado que fotografa (ou deixa que o fotografem em recordações visuais), mas sim de um fotógrafo que perscruta a condição militar temporária e o novo território em que se encontra. […] O cuidado pessoal e técnico colocado nestas composições revela outro aspeto notável desta coleção: a resistência visual ao regime e ao colonialismo. […] Em terceiro e último lugar, resulta de anos de revisitação e reflexão. […] Cinquenta anos após o embarque no Niassa rumo a Nacala, este livro oferece um ensaio visual sobre a experiência da Guerra Colonial. É esse o convite que nos faz: o de descobrir e explorar o rasto de uma passagem por Moçambique que permanece viva nestas páginas.”
Maria José Lobo Antunes, antropóloga e investigadora
“Cada fotografia coloca-nos perante quadros repetidos de experiências que sobrevivem em nós, enquanto participantes do mesmo tempo e do mesmo ambiente. Lembra-nos uma vivência que se atravessou no nosso caminho, sem que a desejássemos ou a tivéssemos escolhido. […] Nós só temos de as apreciar e de refletir sobre o mundo que elas representam e que hoje reclama a nossa solidariedade.”
Aniceto Afonso, Capitão de Abril e historiador