Exibição do filme «Belarmino», de Fernando Lopes (1964), seguido de conversa com Sérgio Bordalo e Sá sobre o filme e sobre o futuro do cinema em Portugal.
Sinopse
“Belarmino” de Fernando Lopes, praticamente inaugura o Cinema Novo Português, cinema que estabeleceu uma rutura com as comédias populares das décadas 30 e 40, muito apreciadas pelo autoproclamado Estado Novo como forma de distrair o povo da penúria, da miséria e da elevada taxa de analfabetismo do Portugal de então.
Belarmino Fragoso (1931-1982), de origens humildes, destaca-se pelo esforço em ultrapassar as contrariedades da vida: desde cedo foi engraxador de sapatos nas ruas de Lisboa, até ingressar, aos 18 anos, no pugilismo. Aqui, teve inúmeros sucessos, chegando, inclusive, a ser bicampeão português e a participar em campeonatos internacionais. Mas, apesar de alguns momentos de glória, cai em desgraça. E este filme é tanto o retrato de um homem quanto de uma cidade num determinado tempo da História de Portugal. Daí o género documental e os tons escuros da tela: representantes fiéis da Lisboa da época. Os sinais desse tempo estão lá e o Ritz Clube é um deles, como representante de uma certa noite lisboeta. Outro é o jazz, que aparece pela primeira vez num documentário português pela mão de Manuel Jorge Veloso e do grupo do Hot Club de Portugal, que contrasta com a obscuridade da imagem e confere um cunho ousado e requintado ao filme.
42 anos após a sua morte, Belarmino é ainda considerado um grande ícone da história do pugilismo, em grande parte graças ao filme de Fernando Lopes: “Da derrocada de um [Belarmino] saiu a vitória do outro [Fernando Lopes]”, Gérard Castello-Lopes (fotógrafo, crítico e distribuidor de cinema português).