Quarta-feira, 24 de Abril de 1974, 22h55.
Dos Emissores Associados de Lisboa ecoa nas ondas da rádio a voz de Paulo de Carvalho, interpretando “E depois do Adeus”, música de José Calvário com letra de José Niza que no início do mês representara Portugal no Festival Eurovisão da Canção.
Estava assim transmitida a primeira senha às unidades militares aderentes ao Movimento das Forças Armadas (MFA) para que encetassem os preparativos e participação nas operações que, um pouco mais tarde, o MFA viria a desencadear em vários pontos do país.
Finalmente, às 00h20 já do dia seguinte, 25 de Abril de 1974, a Rádio Renascença transmite a voz de Zeca Afonso na canção “Grândola, Vila Morena”, o segundo e decisivo sinal que as várias unidades controladas por membros do MFA tanto aguardavam, dando início às movimentações militares que culminariam, pelas 19h30 no quartel do Carmo, na rendição de Marcelo Caetano e à queda do regime ditatorial que durante 48 anos vigorou em Portugal.
Com a população e a poesia nas ruas de Lisboa, saudava-se a Liberdade e apoiavam–se os militares com palavras de ordem de Sophia de Mello Breyner Andresen e Zeca Afonso. Cravos vermelhos eram distribuídos e exibidos como símbolo da Revolução sem sangue.
A arte também saiu à rua, e as paredes das cidades foram invadidas por cartazes, símbolos e palavras de ordem que redesenharam o Portugal contemporâneo: Abril, cravos, liberdade, democracia, igualdade, solidariedade, paz, esperança e futuro. Multiplicam-se as manifestações culturais um pouco por todo o país, e o próprio MFA promove no seu programa medidas imediatas de caráter cultural “que garantam o futuro efetivo da liberdade política dos cidadãos”, encetando a partir de outubro várias campanhas de dinamização cultural e ação cívica de comunicação dos valores democráticos, às quais inúmeros artistas se juntaram.
No ano em que se comemora o 50.º aniversário do 25 de Abril de 1974 expõe-se aqui os quarenta e um cartazes que a Associação 25 de Abril produziu para as comemorações anuais, pertencentes ao espólio da Biblioteca Municipal de Penafiel. Do traço do arquiteto e cartoonista João Abel Manta, ao do pintor Júlio Pomar, ou da gravura de Maria Irene Ribeiro ao design e ilustração de Henrique Cayatte, vários foram os artistas plásticos que colaboraram nos sucessivos cartazes comemorativos da Revolução dos Cravos. São pinceladas gráficas individuais e distintas, que se destacam pela irreverência do olhar.