A Biblioteca Municipal de Soure elaborou um trabalho de pesquisa sobre personalidades sourenses que veio a revelar um conjunto de homens que, pela sua ação política, desempenharam um papel relevante face ao corte provocado pelo golpe militar de 28 de maio de 1926.
No sentido de contribuir para a construção da memória destes homens na comunidade de Soure, a Feira do Livro 2024 integrou no seu programa a Rota da Memória “Pelos trilhos da liberdade ”Sourenses deportados para Timor (1931)”.
Dia 1 de maio de 1931, opositores ao regime, residentes em Soure, organizam o descarrilamento do comboio através do levantamento dos carris, junto à “Ponte das barrocas”, entre Soure e Pombal, assim como o corte das linhas telefónicas e telegráficas.
Sourenses envolvidos na organização deste golpe: Raúl Pinto Coelho Madeira (1897-1973), José O’Neill de Carvalho Noronha (1904-1978), João Albuquerque de Oliveira (1903-1964) , Lino Simões Galvão (1892-1962), Joaquim “Viana”/Joaquim Lourenço Fernandes ( 1903-1980) e Augusto Carecho.
Na sequência de uma alteração de última hora, o comboio não passou, tendo sido dada prioridade a um comboio de mercadorias. Mas a ação estava em marcha e todos são identificados, perseguidos e presos durante o mês de maio.
Terá sido Raúl Pinto Coelho Madeira, médico, aquele que chefiou esta ação revolucionária, contra a instauração de um regime ditatorial, primeiro militar, e depois de 1933 assente na figura de Salazar.
Cinco sourenses foram presos e deportados, no barco “Gil Eanes”, no dia 27 de junho de 1931, para Timor. Alojados no porão do navio, chegam a Timor depois de quatro longos meses de viagem e são transportados para os campo de concentração de Liquiça e Oecussi, em Timor ( v. “Os deportados” de Rui Grácio).
A Rota da Memória tem início na praça da República, na vila de Soure, junto à habitação de um dos deportados (João Albuquerque), seguindo para a R. dos Combatentes, onde se localizava a forja de Lino Galvão, tendo-se assinalado, a antiga casa de habitação de Joaquim “Viana”. Na R. Alexandre Herculano, a casa e o consultório do Dr. Raúl Madeira. A igreja da Misericórdia, o local de refúgio de Augusto Carecho, que não chegou a ser preso e, por fim, a habitação de José O’Neill, no atual Centro de Inovação Social, junto ao auditório Delfim Pinheiro.
Nos locais assinalados existem placas identificativas e informativas sobre o acontecimento e a vida destes homens que constituem a Rota da Memória — pelos trilhos da liberdade.