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Capa do Evento SEMPRE: A palavra, o sonho e a poesia na rua

“No fundo era interessante que daqui a um ano a gente estivesse aqui a dizer que o que foi importante em 74 foi o cinema português”. Numa entrevista para o programa televisivo Cinema 74, em janeiro, expressando os desejos para o novo ano e idealizando as esperanças e o futuro do cinema português, Fernando Lopes prefigurava também a realidade que poucos meses depois viria a concretizar-se.

Em 2024, decorridos 50 anos da Revolução dos Cravos e da entrevista de Fernando Lopes, é graças ao cinema, ao olhar e à poética destes cineastas, bem como dos radialistas e realizadores de televisão, que podemos entrar na trama dos sonhos e das perspetivas da revolução que libertou o país do fascismo.

As imagens do passado olham para nós e pedem para comparecermos diante delas. Resgatar as imagens destes arquivos é também interrogar o cinema, os seus gestos e uma ideia de futuro. Voltar a ver não diz respeito ao passado, é uma exploração das possíveis deslocações entre o passado e o presente.

É no plano da arte combinatória da montagem, entendida aqui como uma maneira de produzir sentido através da combinação de elementos e tempos heterogéneos, que procuro a tensão de um cinema reflexivo e simultaneamente generativo, para que se abra o encontro entre o Outrora e o Agora.

O procedimento, próximo ao da memória, não é um retorno do idêntico, mas algo que restitui a possibilidade daquilo que foi. O que parece estar em causa é a possibilidade de tornar o acabado novamente inacabado, respigar a imagem suspensa, permitir ao que se passou de se reinventar, recolocando assim em campo a hipótese, ou o direito, em cheque hoje, de imaginar o futuro.

Escrevia Walter Benjamin em As Passagens de Paris: “Cada facto histórico apresentado dialeticamente se polariza e se torna um campo de forças onde se esvazia a querela entre a sua história anterior e a sua história ulterior. Ele torna-se este campo de forças quando a atualidade penetra nele.” Outrora e Agora, entre o passado e o presente poderá também acontecer uma ideia de futuro.” (Luciana Fina)

O percurso da instalação é articulado em três partes, em espaços distintos do edifício da Cinemateca, com respetivos subtítulos: A palavra dita, A palavra escrita e os sonhos na rua, O cravo na cidade.

Uma iniciativa da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema em parceria com a Rádio e Televisão de Portugal.

#50anos25abril