A ambição extramusical de tal projeto é certamente desmesurada e a sua realização musical levou Mahler a desenvolvimentos formais e instrumentais sem precedentes na história da música, incluindo dez trompas, dez trompetes e uma “orquestra longínqua”. Enquanto os seus contemporâneos Brahms e Bruckner permanecem sempre “apenas” músicos, Mahler abre as suas obras a uma panóplia infindável de associações e referências filosóficas, literárias, artísticas e religiosas. Neste sentido, revela-se um exemplo paradigmático do compositor “culto”, aquele que sabe tornar musicalmente frutuosa toda a imensa bagagem cultural que transporta dentro de si. No caso da Segunda Sinfonia, tais referências culturais vão desde dramas de Adam Mickiewicz (no primeiro andamento) até à poesia de Klopstock (no andamento final), passando por rituais fúnebres pré-cristãos, pelo impacto da morte de Hans von Bülow, pela poesia da colectânea da Trompa Mágica do Rapaz, pela prelecção de Santo António aos peixes, pelo Juízo Final e pela ressurreição de Cristo.
Nas palavras de Gustav Mahler, o quinto andamento – Im Tempo des Scherzos: Wild herausfahrend – é uma visão do Juízo Final: “É a voz do mensageiro. O fim de todas as formas de vida chegou, o juízo final anuncia-se e o terror do dia de todos os dias instala-se. A terra treme, os túmulos abrem-se, os mortos levantam-se e caminham em cortejos infindáveis para o julgamento final. Os grandes e os pequenos, os reis e os pedintes, os justos e os injustos – todos vão para lá. Todos têm a mesma angústia, pois diante de Deus ninguém é justo. O apelo para misericórdia e perdão ouve-se, terrível e assustador, à nossa volta. Finalmente, no meio de grande confusão e de dolorosos clamores, ouve-se um grito estridente, cortando o ar: é o pássaro da morte, que sai da última campa, para morrer ele próprio. Ergue-se então um coro quase silencioso, a cappella: não há nenhum julgamento, nenhum pecador, nenhum juiz, ninguém é pequeno, ninguém é grande, não há nem castigo nem recompensa! Um sentimento todo-poderoso de amor apodera-se de nós com bem-aventurados Conhecimento e Ser.”
Mahler estava à procura de um texto sobre a ressurreição para completar a sinfonia e encontrou inspiração no poema Die Auferstehung de Friedrich Gottlieb Klopstock (1724-1803), ao qual adicionou pequenas alterações e completou com versos da sua própria autoria.