“Um Chamado Portugal – A Instalação”, é um dispositivo essencialmente audiovisual que debate “as regras do universo” de uma série que ainda não existe. Procura-se olhar para o Estado Novo na Ilha daMadeira e para o “Regime de Colonia” então vigente de um ponto de vista crítico. Interpretamos esta obra coletiva como um debate multigeracional à origem do regime político insular contemporâneo.
Esta instalação de video mapping é constituída por planos gerais que progressivamente ganham novas camadas em distâncias de projeção diferentes: Começa-se por ver uma paisagem contemporânea da Ilha da Madeira, anunciada como um “location scout”. Mas a este filme adicionam-se elementos: personagens, narrativas e objectos. Progressivamente o público vai tomando conhecimento de um universo geograficamente próximo e temporalmente indistinto. Um universo não descolonizado, machista, prepotente. Esta imagem, que se complexifica, complementa-se nos elementos físicos expostos: o diário de bordo da exposição, as histórias por nós recolhidas e as sinopses dos episódios, por nós criadas. Estamos, portanto, perante a fase de pré-produção de uma série feita de forma pública e colaborativa. O público será convidado a colaborar com as suas experiências e pontos de vistas, “inputs” estes que serão adicionados à exposição, e possivelmente à série.
Esta instalação parte da recolha de histórias que aconteceram na Região antes do 25 de abril. No entanto, não se pretende fazer reconstituições históricas em momento algum. Os criadores que assinam a autoria deste projeto trabalharão os elementos destas histórias, manipulando-os na sua vocação política.
Esta instalação representa a formação material de cenários de opressão ausentes de temporalidade. Parte de histórias anteriores ao 25 de Abril mas mantém a temporalidade em aberto, deixando para o espetador a decisão de considerar a opressão uma coisa do passado, ou não.
A grande inovação deste projeto está na metodologia antropológica. Recolhemos histórias antigas, e entregamo-las a jovens criadores, que vão trabalhar estas narrativas a partir da sua linguagem. A reflexão sobre o 25 de Abril acontece com o corpo, para quem é ator, com a câmara para quem é realizador, com os objectos, para quem é diretor de arte. Desambiguamos, desta forma, a causalidade da narrativa para que se encontre a opressão no exercício de se colocar no lugar do outro. O outro, neste caso, são pessoas que há mais de 20 anos nos têm contado histórias de opressão.
«Um Chamado Portugal – A Instalação» é um dos projetos apoiados pela edição de 2024-25 do programa «Arte pela Democracia», uma iniciativa da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril em parceria com a Direção-Geral das Artes.
O Programa «Arte pela Democracia» promove projetos artísticos que se enquadrem nas Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e que contribuam para a reflexão sobre a relevância deste acontecimento na construção da democracia.
É dirigido a projetos artísticos nas áreas das artes visuais (arquitetura, artes plásticas, design, fotografia e novos media); artes performativas (circo, dança, música, ópera e teatro); artes de rua; e cruzamento disciplinar. A edição de 2024-25 teve uma dotação orçamental de um milhão de euros. Selecionou 45 projetos que, durante o ano e de norte e a sul do país, vão contribuir para refletir sobre a liberdade e a democracia.