Skip to main content

Alunos das Caldas da Rainha transformaram o lápis azul da Censura num símbolo da liberdade de expressão

Mais de uma centena de alunos das Caldas da Rainha participaram numa sessão de dinamização da campanha «A minha Liberdade é de todos», um projeto que transforma o lápis azul usado pela censura num símbolo da liberdade de expressão.

Os estudantes, do 3.º ciclo, foram convidados a utilizar uma edição especial do lápis azul para transpor para o papel, num quadrado do tamanho de um azulejo tradicional português, a sua interpretação da liberdade. As várias contribuições vão compor um mural digital colaborativo que será revelado em abril no site do projeto, e que conta já com a participação de mais de 200 escolas e mais de 500 intervenções online.

Participaram na iniciativa os Agrupamentos de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro, Raul Proença e D. João II.

Este evento enquadrou-se na evocação dos 50 anos do levantamento militar do Regimento de Infantaria n.º 5, decorrido a 16 de março de 1974, um golpe que o regime neutralizaria com rapidez e eficácia, mas que se revelaria de grande utilidade para o sucesso da operação «Viragem histórica», levada a cabo a 25 de Abril desse ano.

Fotografias: Cláudia Teixeira | Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril

A vivência da censura e os limites à liberdade de expressão na atualidade

A iniciativa decorreu no CCC — Centro Cultural e Congressos de Caldas da Rainha e incluiu uma Mesa-redonda sobre a vivência da censura e limites à liberdade de expressão na atualidade com a historiadora Irene Flunser Pimentel; o capitão de Abril Nuno Santos Silva; e o ilustrador Nuno Saraiva. A conversa foi moderada por Maria Inácia Rezola, comissária executiva da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril.

Na abertura da sessão, o presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Vítor Marques, apelou aos presentes para que deem o seu contributo para preservar a liberdade e a democracia: “A liberdade perde-se de um dia para o outro. Há muitos sítios onde não há democracia. Temos de construí-la. A democracia precisa da vossa participação”, afirmou.

Irene Flunser Pimentel explicou a uma plateia de jovens entre os 12 e os 15 anos que, durante a ditadura, eram os censores que decidiam o que os portugueses podiam ou não ver, e podiam ou não ler.

“Havia sempre um espetáculo prévio, uma visualização prévia dos filmes para que os censores pudessem decidir o que era ou não permitido. No caso do cinema, como muitos portugueses não sabiam ler e os filmes tinham legendas, os censores falsificavam o que era dito pelos atores”, explicou. Deu depois o exemplo do filme Um rei em Nova Iorque, escrito, produzido, dirigido e protagonizado por Charles Chaplin. “Existia um diálogo em que uma menina dizia ‘O meu pai está preso porque é do partido comunista’. Nas legendas, os censores escreveram ‘porque é um ladrão’.”

Fotografias: Cláudia Teixeira | Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril

“O 25 de Abril é sobretudo um ato de emoção”

Nuno Santos Silva, hoje coronel, era a 25 de Abril de 1974 um jovem capitão com 29 anos, recém-regressado da Guerra em Angola. Naquela madrugada, ocupou o Rádio Clube Português, que, explicou, era um ponto essencial do sucesso do golpe militar, por ser a única estação que podia emitir para todo o país. “Antes de iniciarmos a ocupação, concordámos que rejeitaríamos qualquer tipo de violência. Ocupámos militarmente o Rádio Clube começando por bater à porta”, recordou.

“O 25 de Abril é sobretudo um ato de emoção. Com 29 anos, cada um de nós tem capacidade para mudar o mundo. Cometi um ato de arrojo de que, 50 anos depois, o meu país ainda beneficia. Por isso, convido-vos a viver com emoção. Percecionem as opiniões, os projetos, escolham e vivam-nos. Vocês têm uma responsabilidade enorme: manter este país na trilha do progresso. Já fiz a parte que me cabia. Agora, deixo-vos a herança. Não há ninguém capaz de garantir o futuro sem ser vocês”, disse.

O ilustrador Nuno Saraiva considerou, por seu lado, que “devemos falar sobre liberdade como quando falamos de oxigénio ou sobre água”.

“Têm de ver o 25 de Abril como uma coisa que vos deixa viver livremente”, afirmou.

Recordou depois a experiência enquanto filho de um militar que combateu na Guerra Colonial em Moçambique. Contou aos jovens que ainda tem memória do momento em que, ainda muito criança, assistiu a um alferes disparar sobre o seu próprio pé para poder fugir à Guerra e voltar para Portugal.

“É importante celebrarmos Abril para que estas coisas não voltem a acontecer. Vocês são netos dos capitães de Abril, da revolta das Caldas, e devem segurar isso no coração”, concluiu.

Fotografias: Cláudia Teixeira | Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril

 

Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril até 2026

As Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril tiveram início em março de 2022 e vão decorrer até 2026. Cada ano vai focar-se num tema prioritário, tendo como objetivo reforçar a memória e enfatizar a relevância atual destes acontecimentos na construção e afirmação da democracia.

O período inicial das Comemorações tem sido dedicado aos movimentos sociais e políticos que criaram as condições para o golpe militar. A partir de 2024, os três ‘D’ do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA) serão revisitados, em iniciativas que evocam o processo de descolonização, a democratização e o desenvolvimento.

#50anos25abril