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Há mais política no futebol do que na política

Iniciativa da Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de Abril juntou dirigentes estudantis e desportivos do passado e do presente

Há mais política no futebol do que na política – a frase é do ex-treinador sueco Sven Göran Eriksson, citado pela investigadora Raquel Vaz Pinto, na conversa que refletiu sobre a relação entre a luta estudantil contra a ditadura e o futebol, integrada nas comemorações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril.

Perceber a história e os seus protagonistas e, como explicou a comissária Maria Inácia Rezola, analisar “as questões que o futebol e a política nos proporcionam” foi a intenção de, a partir da exposição “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril”, recordar a histórica Final da Taça de 1969.

Presente no início do debate, o Presidente da República partilhou memórias daquele momento, assinalando que a Final da Taça projetou a luta estudantil.

Com a particularidade de ser “uma manifestação que era impossível de proibir”, aquele foi um “bom exemplo de responsabilidade política no futebol”, notou.

Também presente, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, salientou o papel dos estudantes no combate à ditadura do Estado Novo.

Destacando a importância das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril para, a partir da memória, “projetar o futuro e fortalecer a democracia”, o ministro apontou a importância de se “ouvir histórias e memórias na primeira pessoa”.

Essa foi a ideia da Comissão ao chamar para a conversa Toni (António Oliveira) e Mário Campos, ex-jogadores de futebol, respetivamente do Benfica e da Académica, naquela Final da Taça de 1969.

“Fala-se da final da taça mas não se fala do jogo”, notou Mário Campos, acrescentando: “Não devíamos ter perdido aquele jogo, simplesmente eles tinham o Eusébio e nós não tínhamos.”

Toni tem outra perspetiva e diz que os jogadores da Académica, “quando entraram em campo, já estavam a ganhar”.

O ex-jogador do Benfica recordou que os cartazes da contestação estudantil também passaram pelos adeptos do Benfica e que os próprios jogadores se solidarizaram com a Académica, no final do jogo, dando uma “invulgar” (como assinalou o Presidente da República) volta ao campo conjunta.

Pelo lado dos estudantes, o ex-deputado Alberto Martins – conhecido por, em nome dos estudantes, ter pedido a palavra ao ministro da Educação, em 1968 – frisou que, em 1969, “a Académica foi uma causa pela liberdade”, que se identificou “totalmente” com a luta estudantil.

Os protestos da altura, incluindo a greve às aulas e aos exames, envolveram toda a Universidade, alunos e professores, e estenderam-se a toda a sociedade, recordou, lembrando a miséria e o analfabetismo que caracterizavam Portugal na altura.

“O mundo obriga-nos sempre a reposicionar o espaço do futebol”, realçou o jornalista Carlos Daniel, moderador do debate, referindo-se à utilização política deste desporto.

O futebol, enquanto fenómeno de massas, foi, ao longo da História, instrumentalizado pelos regimes, assinalou a investigadora Raquel Vaz Pinto, partilhando uma frase que diz sempre aos alunos: “Nunca assumam que a nossa democracia está resolvida, está construída e que não é preciso fazer mais nada.”

“A democracia ou se ganha ou se perde, não há empates. Em democracia, não é possível apagar os golos que se sofrem”, sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa, que, antes do debate, visitou demoradamente a exposição “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril”, patente no Museu Nacional de História Natural e da Ciência até 28 de agosto, fazendo votos para que circule pelo país.

#50anos25abril