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Realizado em Lisboa nos dias 28 e 29 de Julho de 1973, o Encontro de Reflexão Política, logo na época conhecido como «Encontro dos Liberais», foi uma iniciativa cívico-política promovida por Joaquim Magalhães Mota e Tomás Oliveira Dias.

O jornal O Século, de 2 de Julho de 1973, salientou que os promotores eram deputados da legislatura que iria findar nesse mesmo ano, membros da chamada «Ala Liberal», alguns dos quais se tinham demitido dos seus lugares em São Bento, como fora o caso de Francisco Sá Carneiro e de João Pedro Miller Guerra. Logo acrescentou O Século que o primeiro não poderia presidir à iniciativa, já que para tal era necessário que residisse no concelho em que o encontro se iria realizar – morando no Porto, Sá Carneiro estava excluído à partida. Quanto a Miller Guerra, tornara público que não iria participar.

 

Encontro dos Liberais. Reportagem d'O Século, 28 de Julho de 1973.

Fonte: ANTT, EPJS.

Na preparação do encontro, alugou-se uma sala da cooperativa Sinase, na Rua Braancamp, mobilizou-se um adido de imprensa – João Botelho Tomé, colaborador do Expresso – e preparou-se um conjunto de quatro textos-base, que seriam publicados pela Moraes.

Logo aqui avultavam, pois, quatro elementos do oposicionismo democrático da altura: o movimento das cooperativas; o semanário Expresso, que vira a luz em Janeiro desse ano de 1973; a actividade da editora Moraes, fundada por António Alçada Baptista; e a acção dos deputados ou ex-deputados da «Ala Liberal», com vista às eleições desse ano.

Num artigo de balanço publicado no Expresso, de 4 de Agosto de 1973, Pinto Balsemão saudaria a iniciativa, recordando as palavras de João Salgueiro no decurso da mesma, quando disse, nomeadamente, que se sentia ali como num «planeta estranho».

Na agonia do Estado Novo, o Encontro dos Liberais foi, sem dúvida, um «planeta estranho», desde logo pela liberdade concedida para que, durante dois dias, em sessões de trabalho que totalizaram cerca de 16 horas, deputados, ex-governantes, candidatos da CEUD, monárquicos, altos funcionários públicos e quadros de empresas pudessem discutir a situação actual e futura do país.

Notou-se «alguma frustração e confusão quanto aos resultados práticos e imediatos», uma «falta de programa», nas palavras de Balsemão, mostra de que, à semelhança do marcelismo, também os liberais se sentiam bloqueados e com dificuldades de agir – pelo menos ao ritmo que pretendiam e que a situação urgentemente exigia.

Ainda assim, e observada à distância, a experiência valeu a pena, pelo sinal público que deu sobre o desconforto de muitas elites, jovens, urbanas e muito qualificadas, quanto aos rumos que o regime levava – e que, meses depois, acabariam por precipitar a sua queda. Graças à sua passagem pelo parlamento, às acções reformistas que tentaram empreender, sem sucesso, e a iniciativas como esta, os «liberais» portugueses puderam apresentar-se com credenciais democráticas no dia 25 de Abril e nos tempos subsequentes, com isso contribuindo, de forma decisiva, para o pluralismo político-partidária e para a diversidade ideológica do novo regime democrático.

#50anos25abril