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Os acontecimentos que levaram à renúncia de Spínola não acabaram com as dúvidas sobre as eleições. Pelo contrário, agudizaram-nas. Para o Movimento de Esquerda Socialista (MES), as eleições eram “contra os reais interesses” dos trabalhadores, ao passo que a União Democrática Popular (UDP) descrevia a “igualdade do direito de voto assente nas desigualdades sociais” como “uma burla”. Outros grupos de extrema-esquerda viam-nas como um mero ritual da “democracia burguesa”, incompatível com uma genuína “democracia popular”.

“Álvaro Cunhal na Amadora: ‘O resultado eleitoral pode falsear a vontade do povo’”. Diário de Lisboa, 23 de dezembro de 1974. Fonte: Fundação Mário Soares e Maria Barroso, pasta 06821.171.27027. “Álvaro Cunhal na Amadora: ‘O resultado eleitoral pode falsear a vontade do povo’”. Diário de Lisboa, 23 de dezembro de 1974. Fonte: Fundação Mário Soares e Maria Barroso, pasta 06821.171.27027.
“O M.E.S. contra as eleições”. Diário de Lisboa, 23 de dezembro de 1974. Fonte: Fundação Mário Soares e Maria Barroso, pasta 06821.171.27027. “O M.E.S. contra as eleições”. Diário de Lisboa, 23 de dezembro de 1974. Fonte: Fundação Mário Soares e Maria Barroso, pasta 06821.171.27027.

Começou também a circular, em múltiplos artigos de opinião e depoimentos políticos, outra ideia: adiar as eleições. O “povo” não estaria pronto para votar. Havia “atraso nas mentalidades”, “ignorância e despolitização”. Fazer eleições era correr “o risco de perder algumas conquistas fundamentais do 25 de Abril”, disse-se.

Manifesto-Programa da UDP. 3 de janeiro de 1975. Fonte: Arquivo Ephemera. Manifesto-Programa da UDP. 3 de janeiro de 1975. Fonte: Arquivo Ephemera.
“Não às eleições, sim à revolução socialista”. Manifesto do PRP/Brigadas Revolucionárias, 10 de março de 1975. Fonte: Arquivo da Defesa Nacional, PT/ADN/EMGFA/5DIV/005/0016/015. “Não às eleições, sim à revolução socialista”. Manifesto do PRP/Brigadas Revolucionárias, 10 de março de 1975. Fonte: Arquivo da Defesa Nacional, PT/ADN/EMGFA/5DIV/005/0016/015.

Finalmente, defenderam-se formas de mitigar a relação entre o apoio eleitoral dos partidos e o processo constituinte. Por exemplo, reservando ao MFA uma percentagem de assentos parlamentares ou, em alternativa, estabelecendo um acordo entre MFA e partidos acerca do conteúdo da Constituição, que a Assembleia eleita teria de respeitar. A estas propostas, o Partido Comunista Português (PCP) ia adicionando a sua crescente desconfiança relativamente ao processo eleitoral, alegando a influência de membros da PIDE e da Legião Portuguesa nas comissões de recenseamento e questionando até que ponto as eleições poderiam ser livres “onde não chegou o 25 de Abril, onde o poder local continua nas mãos de fascistas e reaccionários”.

#50anos25abril