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Alguns dos conflitos no seio da imprensa portuguesa remontavam ao período anterior aos acontecimentos do 11 de Março de 1975. É o caso da já referida luta dos trabalhadores do jornal O Século que, logo em maio de 1974, exigiram a demissão do diretor do jornal, embora este só fosse efetivamente substituído depois de um plenário de trabalhadores em fevereiro de 1975.

Também as greves se haviam tornado um expediente eficaz para satisfazer reivindicações. A 21 de agosto de 1975, os trabalhadores do Jornal do Comércio declararam greve, com a ocupação dos lugares de trabalho. Reclamavam, desta forma, a demissão do diretor do jornal, que consideravam estar próximo do antigo regime. A 4 de setembro, todos os jornais de Lisboa (com exceção d’O Século) e Porto se solidarizam com os seis colegas, suspendendo as publicações por um período de 24 horas. A greve do Jornal do Comércio durou 46 dias, terminando a 6 de outubro, quando os trabalhadores lograram substituir o diretor.

Capa do Diário de Lisboa, 11 de março de 1974 (1ª edição). Capa do Diário de Lisboa, 11 de março de 1974 (1ª edição).
Capa do Diário de Lisboa, 11 de março de 1974 (2ª edição). Capa do Diário de Lisboa, 11 de março de 1974 (2ª edição).

 

O 11 DE MARÇO AGRAVARIA A SITUAÇÃO.

Com a nacionalização da banca e dos seguros, e porque uma grande parte dos jornais portugueses eram propriedade da banca, estes passaram também para o sector público. Foi o caso dos periódicos O Século, Diário Popular, Jornal do Comércio, O Comércio do Porto, Diário de Lisboa, Diário de Notícias e o Jornal de Notícias. Apenas permaneceram no sector privado os diários República, em Lisboa, e Primeiro de Janeiro, no Porto, e o semanário Expresso.

Expresso, 27 de abril de 1974. Expresso, 27 de abril de 1974.
República, 4 de maio de 1974. República, 4 de maio de 1974.

O PCP considerava a tomada dos órgãos de comunicação social uma das condições para o sucesso da Revolução, no que foi acompanhado pela extrema-esquerda. Através das comissões de trabalhadores, conseguiram controlar a imprensa estatizada. Uma das consequências imediatas foi o crescimento exponencial dos conflitos entre as administrações, as direções, as redações, os jornalistas e os tipógrafos, com estes últimos a conseguirem frequentemente impor-se às administrações das empresas jornalísticas. Outra consequência foi a crescente influência dos trabalhadores, não só no funcionamento das empresas jornalísticas, mas também quanto aos próprios conteúdos dos jornais.

 

Caricatura de Augusto Cid, Povo Livre, 28 de Maio de 1975.
Caricatura de Augusto Cid, Povo Livre, 28 de Maio de 1975.

#50anos25abril