O processo de descolonização do século XX recebe(m) o impulso decisivo com o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e é acolhido no artigo 73.º da Carta das Nações Unidas, que dava resposta aos anseios de muitos povos colonizados.
Nas colónias portuguesas, designadamente Guiné, Moçambique e Angola, já no século XIX Portugal enfrentara lutas contra a sua dominação, que as condições de então permitiram ir solucionando militarmente. A hora da descolonização ainda não tinha soado para África.
É depois de 1945 que os movimentos nacionalistas das colónias portuguesas iniciam a luta pela libertação, em paralelo com a dinâmica global anticolonial então gerada, na qual a conferência de Bandung (1955) foi um dos acontecimentos mais importantes: além da violenta condenação do colonialismo, apelou à unidade dos povos contra a dominação colonial e deu lugar ao Movimento dos Não-Alinhados, que passou a coordenar o apoio às colónias ainda por libertar.
um grupo de intelectuais africanos cuja solidariedade tinha sido cimentada na Casa dos Estudantes do Império funda, em Lisboa, o Centro de Estudos Africanos.
nasce o Movimento Anticolonialista, orientado para a luta contra o colonialismo português, que agrupa vários dirigentes nacionalistas.
surge a Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional (FRAIN), agrupando o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
o MPLA, o PAIGC, a FRELIMO e o MLSTP (então CLSTP – Comité para a Libertação de São Tomé e Príncipe) criam em Marrocos a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP).
Em maio de 1963, em Adis Abeba, na Etiópia, na sequência das conferências pan-africanas ocorridas entre 1958 e 1961, uma conferência de chefes de Estado e de Governo de 31 países proclamou a fundação da Organização da Unidade Africana (OUA), uma organização de Estados soberanos que assume o apoio à luta de libertação das colónias que ainda subsistiam em África.
A ação dos movimentos de libertação nas colónias portuguesas era, assim, uma ação coordenada e integrada não só entre eles próprios, como no seio de organizações internacionais mais amplas.
O Estado português sofreu o primeiro embate dos movimentos nacionalistas em 1954 no Estado da Índia, então por meios não violentos, mas manteve uma recusa obstinada a qualquer abertura. Imperava a máxima de Salazar «A Pátria não se discute», pelo que toda a intenção de questionar o problema colonial era severamente reprimida.
Essa recusa cega do princípio da autodeterminação lançou os movimentos nacionalistas na única solução que lhes restava, a luta armada, já que as suas tentativas de negociação tiveram como resposta a perseguição, a prisão, o exílio. E algumas manifestações de massas de natureza social deram lugar a violentas repressões, traduzidas em autênticos massacres:
- Agosto de 1959, Guiné: greve dos trabalhadores das docas do Pidjiguiti, violentamente reprimida (massacre de Pidjiguiti).
- Junho de 1960, Moçambique: reunião entre população de Mueda e a administração colonial terminou com a morte de um número indeterminado de moçambicanos (massacre de Mueda).
- Janeiro de 1961, Angola: greve na Baixa do Cassanje terminou na morte de milhares de trabalhadores (massacre da Baixa do Cassanje).