Skip to main content

Os acontecimentos recentes em Coimbra e Lisboa levam à radicalização da contestação estudantil.

Num plenário realizado a 7 de maio, é decretado o “luto académico total”, que inclui greve às aulas, frequências e exames de final do ano. Na Faculdade de Ciências de Lisboa, por exemplo, lê-se num cartaz: “Não faltes amanhã, falta já hoje”.

Por sugestão de Eurico Figueiredo, carismático dirigente estudantil de Medicina, é aprovada em plenário uma nova forma de protesto: a greve da fome. Na cantina da Cidade Universitária, 81 estudantes iniciam esta inédita forma de protesto. Num abaixo-assinado, os grevistas assumem uma “posição marcada e IRREDUTÍVEL”, manifestando o seu “mais veemente protesto”.

 

Estudantes presas durante a greve de fome.

10 de maio de 1962. Fonte: FMSMB-DTR.

Estudantes presasdurante a greve da fome. 10 de maio de 1962. Fonte: FMSMB-DTR.

Aos 81 grevistas juntam-se, em solidariedade, cerca de 1500 estudantes (e alguns professores) no interior da cantina. O local passa a ser um bastião de resistência. O Senado da Universidade de Lisboa condena a radicalização do movimento e apela à intervenção do Governo de forma não violenta.

Na madrugada do dia 11 de maio, a polícia cerca a cantina e entra nas instalações. Alguns professores, como Luís Lindley Cintra e Francisco Pereira de Moura, tentam servir de mediadores e demonstram o seu apoio aos estudantes. Os estudantes são presos, um a um, incluindo os dirigentes das associações. Muitos são libertados na manhã seguinte, mas alguns são conduzidos à prisão de Caxias. Os acontecimentos alcançam uma repercussão internacional, bem visível na imprensa estrangeira.

Na prisão, um grupo de estudantes presas mantém o protesto: “A nossa atitude de firmeza e de recusa sistemática e geral da comida, como protesto ao facto injustificado de estarmos presas, levou a polícia a propor-nos, insistentemente, durante a tarde, o fornecimento de sandes, que recusámos também”.

 

Identificação pela PIDE de alguns grevistas de fome.

Fonte: ANTT.ca-PT-TT-PIDE-DGS-Album-Fotos-Presos-8905.

Identificação pelaPIDE de alguns grevistas da fome. ca-PT-TT-PIDE- -DGS-Album- Fotos-Presos-8905. Fonte: ANTT.

 

Abílio Teixeira Mendes • Adolfo Steiger Garção • Aguinaldo Alexandre Cabral • Aires Glória Duarte • Alexandre de Gouveia e Abreu • Alfredo Nascimento • Álvaro Ribeiro Mateus • Amândio Gonçalves Cordeiro • António Cardoso da Silva • António da Conceição Bento • António Alves Vieira • António Correia de Campos • António da Cruz Rato • António Jacinto Rodrigues • António José Ferreira • António Ginestal da Cruz • António Montez de Sousa • António Ramos Ribeiro • António Rego Chaves • Augusto José Carvalho Amorim • Bento Quintino de Barros • Carlos Pires da Silva • Duarte Vitorino Marques • Emanuel de Melo Sousa • Ernâni Pinto Basto • Eugénio Pinto Basto • Eurico Figueiredo • Feliciano da Cruz David • Fernando Cortês Pinto • Fernando de Quevedo e Castro • Fernando Vaz Garcia • Henriques Schwarz da Silva • Ilídio Lourenço • Isabel Carlos Simões Diniz • Isabel Vila Maior • Jacinto Carriço • Jaime Filipe Barbosa • João Bívar Segurado • João Carlos Valente • João Cortesão Casimiro • João Rego Santos • João Ribeiro Louro • João Santos Marques • Joaquim Faria Teixeira • Joaquim Ortigão • Joaquim Rebordão Esteves • Jorge Dias de Deus • José António Barata • José Francisco Borrego Rovinha • José Garibaldi Barros Queiroz • José Carlos Carvalhosa • José Luís Boaventura • José Marques Felismino • José Oliveira Calvário • Laura Larcher Graça • Lima Saraiva • Luís Gouveia de Freitas • Manuel Silva Tavares • Manuel Monteiro Magalhães • Manuel Paiva Teixeira • Manuel Vieira Pereira • Maria da Conceição Santinho • Maria Cristina Pereira • Maria Cristina Pereira • Maria Emília Teles Tavares • Maria Fernanda Guerra • Maria José Barreiro Marques • Mário Sottomayor Cardia • Mateus Mendes Branco • Nuno Brederode Santos • Orlando Pereira de Sousa • Paulo Sucena • Pedro Massano d’Amorim • Rodrigo Gentil Stromp • Rodrigo das Neves • Rui Jorge Gabriel Tamagnini • Rui Manuel Faure da Rosa • Valentim Alexandre • Vasco Manuel Veloso • Vasco Martins Reis

 

Fonte: Artur Pinto (coord.), 100 Dias que abalaram o regime. A crise académica de 1962. Lisboa: Tinta-da-China, 2012, p. 143-145.

 

No dia 21 de maio, é publicado um decreto-lei que determina que “o ministro da Educação Nacional poderá sempre ordenar procedimento disciplinar contra alunos das escolas dependentes do Ministério”.

A repressão sobre o movimento estudantil aumenta com a perseguição e a prisão de alguns dirigentes associativos: José Bernardino e Eurico Figueiredo, entre outros. Os grevistas da fome são expulsos da universidade e retiram-se apoios financeiros aos alunos que estiveram envolvidos na crise. Alguns estudantes, como Francisco Delgado, são expulsos de todas as universidades portuguesas por um período entre dois a três anos. Mas não é só a repressão a anunciar o final da crise.

PRISÃO DOS ESTUDANTES QUE SE ENCONTRAVAM NA CANTINA UNIVERSITÁRIA EM APOIO AO SEUS COLEGAS EM GREVE DE FOME.

Fonte: FMSMB- DTR.

Com a chegada da época dos exames, o risco de desmobilização dos estudantes é real. No dia 15 de junho, num plenário no Instituto Superior Técnico, é votada por maioria a suspensão do luto académico. Apesar da insatisfação de alguns estudantes, o conjunto das associações de estudantes acata a decisão tomada em plenário. A contestação perde vigor, mas continua em torno da prisão dos dirigentes – especialmente de Eurico Figueiredo – e da anulação dos processos disciplinares.

Informação sobre expulsão do aluno Francisco Delgado de todas as universidades. Francisco Delgado fora um dos principais protagonistas da ocupação da sede da AAC, em Coimbra, depois de ter sido encerrada pela polícia. 2 de julho de 1962. Fonte: FMSMB-DJR. Informação sobre expulsão do aluno Francisco Delgado de todas as universidades. Francisco Delgado fora um dos principais protagonistas da ocupação da sede da AAC, em Coimbra, depois de ter sido encerrada pela polícia. 2 de julho de 1962. Fonte: FMSMB-DJR.
Recorte de imprensa do jornal L’Express sobre a crise académica de 1962. Fonte: FMSMB-DDR. Recorte de imprensa do jornal L’Express sobre a crise académica de 1962. Fonte: FMSMB-DDR.
24/03/2025

António Correia de Campos testemunhou, enquanto estudante e membro da direção da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, a crise de 1962.

#50anos25abril