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A crise académica de 1969 reflete uma nova estratégia do movimento estudantil, marcada pelo alargamento dos horizontes reivindicativos das associações de estudantes.

As exigências deixaram de estar centradas na defesa dos direitos de associação, passando a exprimir a necessidade de fundar uma “universidade nova”, que não servisse apenas a reprodução das elites do regime. A democratização do ensino, a autonomia da universidade e a participação activa dos estudantes na gestão das escolas passam a ser prioridades.

Essa ambição encontra-se plasmada na “Declaração de Coimbra”, aprovada a 25 de novembro de 1968 e que será a base do programa da lista do Conselho das Repúblicas, candidata à Direção-Geral da AAC. Nela se exigia o fim das comissões administrativas, e a realização imediata de eleições, a legalização das comissões pró-associação, a revogação da legislação anti-estudantil, a participação de estudantes democraticamente eleitos no governo da universidade, a legalização dos órgãos federativos e, significativamente, a amnistia de todos os estudantes presos e expulsos da universidade, bem como a reintegração dos professores expulsos.

 

Programa da lista candidata aos corpos gerentes da AssociaçãoAcadémica patrocinada pelo Conselho das Repúblicas. 1968. Fonte: FMSMB-FIC/CA
Programa da lista candidata aos corpos gerentes da Associação Académica patrocinada pelo Conselho das Repúblicas. 1968. Fonte: FMSMB-FIC/CA

O cessar de funções da Comissão Administrativa, imposta pelo regime à AAC desde 1965, foi encarado pela corrente Conselho das Repúblicas (CR) como uma oportunidade para reformular a lógica de prestação de serviços em que era pensada a Associação, dotando-a de uma orientação sindical. Isto é, a AAC devia dedicar-se à defesa dos interesses dos estudantes, não apenas no que diz respeito às suas necessidades de convívio e recreio, mas, sobretudo, no que concerne às necessidades surgidas na universidade, o seu local de trabalho.

A radicalização do movimento estava em marcha e acentuou-se depois de, a 8 de dezembro, o regime ter demonstrado que não estava disposto a ceder. Nesse dia, a PIDE invade as instalações da AE do Instituto Superior Técnico, apreende o seu património e suspende os seus dirigentes. Segue-se a invasão da Cidade Universitária pelas forças policiais, uma manobra de intimidação que se tornaria recorrente. Coimbra solidariza-se e a eleição, por ampla maioria, da lista CR, em fevereiro, serve para mostrar aos estudantes e ao poder que o recuo não era opção.

Nos meses seguintes, a ação da AAC e dos estudantes de Coimbra vai espelhar a resistência cultural e política que a juventude europeia desses “excessivos” anos sessenta, turbulenta e inquieta, movia contra a ordem instituída. A criatividade, a exuberância e o risco das formas de luta encontradas constituíram um dos mais veementes abalos à autoridade do regime, granjeando à crise académica de 1969 um lugar destacado no imaginário coletivo da resistência antifascista em Portugal.

#50anos25abril