Durante os anos 60, a atividade das associações de estudantes (AAEE) desenvolveu-se e ganhou uma legitimidade popular até então desconhecida. Com uma crescente população universitária, as AAEE mantiveram, por um lado, a prestação de serviços variados à comunidade estudantil, mas, por outro, aprofundaram o seu processo de “sindicalização”.
Embora as AAEE se considerassem apolíticas, a imprensa estudantil denunciava as arbitrariedades do poder e a prepotência das autoridades académicas sobre o movimento associativo.
Através de festivais de música, teatro e cinema, as associações revelavam um mundo novo e, direta ou indiretamente, denunciavam a enorme distância que havia entre as instituições universitárias e as aspirações sociais dos estudantes portugueses.


Na sala escura dos cineclubes, abrem-se novos terrenos de imaginação, viagem e experimentação.
As diferentes correntes do cinema do pós-guerra, do neorrealismo italiano à nouvelle vague francesa e ao cinema americano, são introduzidas em Portugal através dos cineclubes. A par da exibição dos filmes, a nova cultura estética é acompanhada pelo desenvolvimento da crítica cinematográfica.
À semelhança das AAEE, o movimento cineclubista foi também alvo da repressão: quer através da legislação, que procurava instituir um sistema de controlo governamental sobre os estatutos, quer com a prisão de dirigentes associativos e o encerramento compulsivo das instalações, sobretudo a partir de 1963.




Apesar da repressão – ou por causa dela – o movimento associativo cresceu a partir de 1965.
No ambiente universitário, havia uma grande insatisfação e uma relativa paralisia do trabalho associativo. Ao identificar os estudantes como parte da oposição política, o regime contribuiu para a politização crescente do movimento.
O exílio dos estudantes expulsos das universidades portuguesas não levou ao abandono da contestação estudantil. Pelo contrário, permitiu aos jovens portugueses participarem em redes de solidariedade internacional e procurarem apoios para desenvolver o seu protesto. A criação do Secretariado dos Encontros dos Estudantes Portugueses é disso exemplo.
As listas de candidatura da oposição democrática nas eleições de 1965 contavam com antigos estudantes envolvidos na crise. A questão colonial, que até aí tinha sido pouco explícita, começa a inquietar os estudantes. Sobretudo em Lisboa, e depois em Coimbra e noutros meios académicos, o regresso dos primeiros oficiais milicianos que trazem informação sobre a guerra em África abre caminho a um novo ciclo de contestação.



24 Março, órgão da Junta Patriótica de Estudantes Portugueses no estrangeiro.
Setembro de 1965. Fonte: FMSMB- FIC/CA
Em Coimbra, em 1965, já instalada na nova sede, a Associação Académica (AAC) foi acusada de manter em funcionamento secções ilegais, em particular a secção de folhas, responsável por publicações consideradas “subversivas”.
As autoridades decretaram um novo encerramento das instalações da AAC e a substituição da Direção por uma comissão administrativa. Até 1968, os apelos para a realização de eleições e a restauração de uma representação democrática vão ser as linhas de força que precedem a crise de 1969.

Na noite de 25 para 26 de novembro de 1967, níveis de precipitação extraordinários na região da Grande Lisboa resultaram na maior catástrofe natural desde o terramoto de 1755.
As cheias deixaram muitos habitantes desalojados, sem comida e a viver em condições insalubres. Registaram-se, pelo menos, 700 mortes. O regime autoritário, incapaz de prestar socorro e quase admitindo a sua incúria, procurou abafar a situação, censurando a cobertura noticiosa das cheias.
Aderindo ao apelo da Juventude Universitária Católica (JUC), coube aos estudantes lisboetas acudir as populações. A Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico alugou autocarros, que levaram mantimentos e braços para os trabalhos de limpeza. Da Faculdade de Medicina vieram jovens médicos e finalistas, que realizaram campanhas de vacinação e consultas. Para combater a desinformação, lançou-se o boletim Solidariedade Estudantil. O choque perante a realidade encontrada radicalizou as reivindicações do movimento estudantil, que passou a incorporar, de forma mais nítida e regular, a questão social nos seus cadernos reivindicativos.
Nas palavras de um dos voluntários, José Brazão, “dá-se o salto qualitativo do movimento estudantil para aquilo que foi até 1974”.

