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Durante os anos 60, a atividade das associações de estudantes (AAEE) desenvolveu-se e ganhou uma legitimidade popular até então desconhecida. Com uma crescente população universitária, as AAEE mantiveram, por um lado, a prestação de serviços variados à comunidade estudantil, mas, por outro, aprofundaram o seu processo de “sindicalização”.

Embora as AAEE se considerassem apolíticas, a imprensa estudantil denunciava as arbitrariedades do poder e a prepotência das autoridades académicas sobre o movimento associativo.

Através de festivais de música, teatro e cinema, as associações revelavam um mundo novo e, direta ou indiretamente, denunciavam a enorme distância que havia entre as instituições universitárias e as aspirações sociais dos estudantes portugueses.

Boletim de Unidade Estudantil (nºs 2 e 8), editados pelas Associações de Estudantes de Lisboa, com numerosas ilustrações e caricaturas. Fonte: FMSMB-AMS Boletim de Unidade Estudantil (nºs 2 e 8), editados pelas Associações de Estudantes de Lisboa, com numerosas ilustrações e caricaturas. Fonte: FMSMB-AMS
Boletim de Unidade Estudantil (nºs 2 e 8), editados pelas Associações de Estudantes de Lisboa, com numerosas ilustrações e caricaturas. Fonte: FMSMB-AMS

Na sala escura dos cineclubes, abrem-se novos terrenos de imaginação, viagem e experimentação.

As diferentes correntes do cinema do pós-guerra, do neorrealismo italiano à nouvelle vague francesa e ao cinema americano, são introduzidas em Portugal através dos cineclubes. A par da exibição dos filmes, a nova cultura estética é acompanhada pelo desenvolvimento da crítica cinematográfica.

À semelhança das AAEE, o movimento cineclubista foi também alvo da repressão: quer através da legislação, que procurava instituir um sistema de controlo governamental sobre os estatutos, quer com a prisão de dirigentes associativos e o encerramento compulsivo das instalações, sobretudo a partir de 1963.

Lista dos 10 melhores filmes de 1964, segundo José-Augusto França, acompanhada de nota explicativa. Correspondência enviada a João Bénard da Costa. Fonte: FMSMB-DBE Lista dos 10 melhores filmes de 1964, segundo José-Augusto França, acompanhada de nota explicativa. Correspondência enviada a João Bénard da Costa. Fonte: FMSMB-DBE
Cine Clube Universitário de Lisboa: informação sobre o filme O Eclipse. Fonte: FMSMB-MAS Cine Clube Universitário de Lisboa: informação sobre o filme O Eclipse. Fonte: FMSMB-MAS
Folheto do Cine Clube Universitário de Lisboa sobre o Ciclo Cinema Maldito. Fonte: FMSMB-AMS Folheto do Cine Clube Universitário de Lisboa sobre o Ciclo Cinema Maldito. Fonte: FMSMB-AMS
Folheto do CCUL sobre o Ciclo do Cinema Francês do Após-Guerra. Fonte: FMSMB-AMS

 

Apesar da repressão – ou por causa dela – o movimento associativo cresceu a partir de 1965.

No ambiente universitário, havia uma grande insatisfação e uma relativa paralisia do trabalho associativo. Ao identificar os estudantes como parte da oposição política, o regime contribuiu para a politização crescente do movimento.

O exílio dos estudantes expulsos das universidades portuguesas não levou ao abandono da contestação estudantil. Pelo contrário, permitiu aos jovens portugueses participarem em redes de solidariedade internacional e procurarem apoios para desenvolver o seu protesto. A criação do Secretariado dos Encontros dos Estudantes Portugueses é disso exemplo.

As listas de candidatura da oposição democrática nas eleições de 1965 contavam com antigos estudantes envolvidos na crise. A questão colonial, que até aí tinha sido pouco explícita, começa a inquietar os estudantes. Sobretudo em Lisboa, e depois em Coimbra e noutros meios académicos, o regresso dos primeiros oficiais milicianos que trazem informação sobre a guerra em África abre caminho a um novo ciclo de contestação.

Conclusions de la 1ère Recontre des Etudiants Portugais à L’Étranger. Fonte: FMSMB-DCN
Portugal: L’Université en Prison. Fonte: Arquivo de História Social ICS/UL. Colecção de Fátima Patriarca Portugal: L’Université en Prison. Fonte: Arquivo de História Social ICS/UL. Colecção de Fátima Patriarca

24 Março, órgão da Junta Patriótica de Estudantes Portugueses no estrangeiro.

Setembro de 1965. Fonte: FMSMB- FIC/CA

Em Coimbra, em 1965, já instalada na nova sede, a Associação Académica (AAC) foi acusada de manter em funcionamento secções ilegais, em particular a secção de folhas, responsável por publicações consideradas “subversivas”.

As autoridades decretaram um novo encerramento das instalações da AAC e a substituição da Direção por uma comissão administrativa. Até 1968, os apelos para a realização de eleições e a restauração de uma representação democrática vão ser as linhas de força que precedem a crise de 1969.

Eleições na AAC -Comunicado da Comissão Pró-Eleições. Fonte: FMSMB-DML Eleições na AAC -Comunicado da Comissão Pró-Eleições. Fonte: FMSMB-DML

Na noite de 25 para 26 de novembro de 1967, níveis de precipitação extraordinários na região da Grande Lisboa resultaram na maior catástrofe natural desde o terramoto de 1755.

As cheias deixaram muitos habitantes desalojados, sem comida e a viver em condições insalubres. Registaram-se, pelo menos, 700 mortes. O regime autoritário, incapaz de prestar socorro e quase admitindo a sua incúria, procurou abafar a situação, censurando a cobertura noticiosa das cheias.

Aderindo ao apelo da Juventude Universitária Católica (JUC), coube aos estudantes lisboetas acudir as populações. A Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico alugou autocarros, que levaram mantimentos e braços para os trabalhos de limpeza. Da Faculdade de Medicina vieram jovens médicos e finalistas, que realizaram campanhas de vacinação e consultas. Para combater a desinformação, lançou-se o boletim Solidariedade Estudantil. O choque perante a realidade encontrada radicalizou as reivindicações do movimento estudantil, que passou a incorporar, de forma mais nítida e regular, a questão social nos seus cadernos reivindicativos.

Nas palavras de um dos voluntários, José Brazão, “dá-se o salto qualitativo do movimento estudantil para aquilo que foi até 1974”.

Boletim Solidariedade Estudantil. 1967. Fonte: FMSMB- AMS Boletim Solidariedade Estudantil. 1967. Fonte: FMSMB- AMS
Fotografia publicada na Revista LIFE. Fonte: Fotografia de Terrence Spencer. 1968. Câmara Municipal de Vila Franca de Xira Fotografia publicada na Revista LIFE. Fonte: Fotografia de Terrence Spencer. 1968. Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

#50anos25abril