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O Forte da Barra chegou a encarcerar 1.500 presos em simultâneo. Salas com capacidade para 100 homens chegaram a alojar mais de 500. Para aí foram enviados 112 angolanos envolvidos na revolta de 4 de fevereiro de 1961, muitos dos quais não resistiram às torturas e aí morreram.

Diário de Lisboa. 4 DE FEVEREIRO DE 1961. FONTE: FMSMB, DOCUMENTOS RUELLA RAMOS Diário de Lisboa. 4 de fevereiro de 1961. Fonte: FMSMB, Documentos Ruella Ramos

A Cadeia de São Paulo era a cadeia da delegação da PIDE em Angola e onde esta fazia os seus interrogatórios. Foi palco de um dos primeiros episódios de luta contra o colonialismo. No dia 4 de fevereiro de 1961, centenas de angolanos assaltaram a cadeia e libertaram os presos políticos. Para muitos, este é considerado o ato fundador da luta de libertação do povo angolano.

Instalada na antiga Fortaleza Militar do Penedo, a Casa de Reclusão Militar, embora fosse uma cadeia militar, em 1959 tinha à sua guarda sobretudo prisioneiros civis. No ano de 1960, estavam encarcerados nesta prisão 134 indivíduos, entre militares, presos comuns e presos políticos. A Casa de Reclusão também foi assaltada a 4 de fevereiro de 1961.

 

Criado em 1962, o Campo de Recuperação de São Nicolau situava-se num território desértico no litoral angolano, a norte da então Moçâmedes (Namibe).

Para São Nicolau foram enviados guerrilheiros suspeitos de atividades subversivas, por vezes acompanhados da família, bem como populações deslocadas.

O campo prisional era composto por três aldeamentos. São Nicolau I era o núcleo central. Aí as camaratas tinham beliches e esteiras. São Nicolau II era uma reserva de trabalho agrícola. O mais severo dos três núcleos era São Nicolau III. Rodeado de arame farpado, os presos não dispunham de camas ou esteiras, dormindo encostados uns aos outros embrulhados numa manta. As casernas tinham 20 x 40 metros e chegavam a albergar 200 homens. As celas disciplinares eram as designadas «geladeiras». Os presos eram obrigados a trabalhar nove horas por dia sem qualquer retribuição. Os castigos eram muito severos e os fuzilamentos frequentes. Só havia assistência médica uma vez por semana.

Em 1964, estavam encarcerados em São Nicolau 651 africanos. Em 1966, o número subiu para um valor entre os 800 e os 1.200 presos. Já em 1972, albergava 1.123 prisioneiros. São Nicolau ficaria conhecido como o «Tarrafal Angolano».

Situado a 200km de Silva Porto (Kuito), o Campo de Trabalho do Missombo foi criado pela Portaria n. 18 702, de 24 de agosto de 1961, quando Adriano Moreira era ministro do Ultramar, para uma lotação máxima de 500 reclusos. Dez meses após a sua abertura, a população era já de 973 prisioneiros, o que levou à sua ampliação. Os presos eram vigiados por seis guardas da PSP e por noventa auxiliares.

O objetivo da criação deste campo era a regeneração dos indivíduos através do exercício do trabalho.

O complexo prisional era composto por quatro acampamentos principais, que chegaram a encarcerar 2.500 indivíduos. Com a aproximação da guerrilha do MPLA, o Campo do Missombo foi desativado em agosto de 1966, e os seus prisioneiros foram transferidos para São Nicolau.

 «Residentes do Campo de Trabalho de Missombo" (Angola): mensagem ao Presidente do Conselho, enviada através do presidente da Associação dos Naturais de Angol, Augusto Pitta Grós Dias, solicitando a libertação dos presos», outubro de 1964.  Fonte: ANTT, SGPCM 

A Cadeia Civil de Sommerschild (nome da rua de Lourenço Marques onde se situava) foi parcialmente cedida à PIDE. Aí as celas não tinham lavatório nem sanita. Esta prisão recebeu, em maio de 1965, 14 mulheres e 6 crianças capturadas em Middelburg numa operação da PIDE em conjunto com as autoridades da África do Sul. Embora acompanhadas por 57 homens, estes tiveram outro destino – a Cadeia da Machava. 

O Campo de Trabalho de Mabalane foi criado a 25 de abril de 1963. Situava-se a 500 quilómetros a norte de Lourenço Marques (Maputo), num lugar deserto e repleto de feras. Nele convergiram presos políticos, guerrilheiros capturados e populações que fugiam da guerra. Os presos eram obrigados a trabalhar, sem qualquer retribuição, e eram espancados com frequência. Em 1968, Mabalane alojava 996 indivíduos. Em 1973, passou a designar-se Penitenciária Agrícola de Mabalane, nome que ainda hoje conserva.

Processo respeitante à carta de Isaura de Jesus Marques (Lisboa) e à transcrição da informação, prestada pelo Ministério do Ultramar, acerca do pedido de informações sobre o seu filho, que se encontra no Campo de Trabalho Prisional Mabalane, em Moçambique. Fonte: ANTT, SGPCM

 

Na Fortaleza da Ilha de Ibo (Fortaleza de São João Baptista), houve períodos em que as celas estavam repletas. Os presos viam-se obrigados a dormir de pé, comprimidos ou sentados com as pernas dobradas. A comida, escassa, era depositada no chão e os tambores para as fezes, depois de despejados, serviam para o transporte de água de beber. A mortalidade neste presídio era extremamente elevada. Em 1968, estavam na Fortaleza de Ibo 252 prisioneiros.

 

Fortaleza de São João Baptista do Ibo, 2009. Fonte: Wikimedia Commons. Rosino.
Fortaleza de São João Baptista do Ibo, 2009. 
Fonte: Wikimedia Commons. Rosino.

A Vila Algarve era a cadeia da delegação da PIDE em Moçambique. Para lá eram levados os presos políticos para interrogatório, onde eram violentamente torturados. Daí seguiam para as prisões e campos ditos de «recuperação» ou para a cadeia civil de Sommerschield. 

 

A Colónia Penal e Agrícola da Ilha das Galinhas terá sido criada pelo almirante Sarmento Rodrigues, na qualidade de Governador da Guiné (1945-1949). Entre 1957 e 1962, estiveram nestas instalações, presos pela PIDE, mais de mil guineenses. Neste último ano, cerca de 100 presos políticos foram enviados para o campo de Chão Bom do Tarrafal, juntamente com detidos angolanos e cabo-verdianos. Em meados de 1969, 58 guineenses presos no Tarrafal regressaram à Ilha das Galinhas.

Nesta colónia penal, estiveram presos José Carlos Schwartz, referência musical guineense que, inspirado na sua experiência, compôs a música «Diju Di Galinha», e o fundador do PAIGC Daniel Barbosa, libertado em 1969 por ordem do então governador geral e comandante chefe António de Spínola, no âmbito da sua política «Por uma Guiné melhor».

Em São Tomé, que foi o destino de milhares de africanos de outras colónias obrigados a trabalhos forçados nas roças, a PIDE tinha um calabouço na sua sede.  

Em Diu, o Depósito de Degredados foi regulamentado em 1937, e, posteriormente, foram criadas diversas instalações prisionais, em especial após a independência da União Indiana.
  
No entanto, os adversários do domínio colonial eram sobretudo desterrados para Portugal, muitos dos quais ficariam encarcerados no Forte de Peniche, durante longos anos. 

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