A exposição «Venham Mais Cinco – O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa (1974–1975)», com curadoria de Sérgio Tréfaut e consultoria histórica de Luísa Tiago de Oliveira, apresenta, pela primeira vez em Portugal, 200 imagens captadas por 30 fotógrafos internacionais que testemunharam a Revolução dos Cravos. A exposição inaugura a 23 de maio, em Almada, […]
Entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975, Portugal foi manchete quase diária de toda a imprensa internacional. Nunca nada de semelhante acontecera ou viria a acontecer no país, por um período de tempo tão longo.
O fim abrupto de uma ditadura de 48 anos, o início da democratização que parecia seguir por caminhos inesperados, as dúvidas a respeito do processo de independência de grandes países africanos, tudo fazia com que o mundo inteiro voltasse os olhos para Portugal. De um dia para o outro, aterraram em Lisboa fotógrafos das maiores agências internacionais, jovens e veteranos, que captaram imagens por todo o país, acompanhando a sucessão vertiginosa dos acontecimentos.
Muitos vieram em missões de curta duração, outros instalaram‑se vários meses para perceber e retratar o que se passava. Quase tudo era surpreendente para os estrangeiros: a situação política inédita num país europeu, o quotidiano dos portugueses, a forma como a política entrava na vida da população. Eram fotógrafos experientes. Tinham um olhar incisivo, procuravam imagens para as capas das revistas de maior tiragem, mas também revelavam empatia, encantamento e genuíno interesse antropológico. Durante cerca de um ano e meio, fotografaram tudo.
A galeria de imagens começa no final de Abril, quando o Golpe de Estado do Movimento das Forças Armadas se transforma em revolução, com as ruas cheias de uma população a quem fora pedido para ficar em casa, e que, pelo contrário, subia para os tanques, entregava café e flores aos soldados, gritava e chorava de alegria. Seguem‑se imagens da detenção dos agentes da PIDE (prémio World Press Photo 1974, de Henri Bureau), mas também fotografias de cravos nas espingardas que transmitiram ao mundo esse novo conceito: a Revolução dos Cravos.
Muitos fotógrafos estavam na tomada da PIDE/DGS, na chegada dos exilados políticos e na irrepetível manifestação do Primeiro de Maio de 1974, com soldados e marinheiros abraçados a uma população feliz como nunca fora.
Nos meses que se seguiram, quando tudo podia acontecer e a surpresa era a regra do quotidiano, os fotógrafos seguiram as ocupações de fábricas, as nacionalizações, a Reforma Agrária, as Campanhas de Dinamização Cultural promovidas pelo MFA, o surgimento dos partidos políticos, as campanhas eleitorais para a Assembleia Constituinte.
Os mesmos fotógrafos voaram para Angola e Moçambique, procurando retratar o processo de descolonização e o regresso massivo de portugueses que viviam em África.
A partir da segunda metade de 1975, transmitiram para o mundo imagens de um país dividido, com ataques às sedes do Partido Comunista e a outros movimentos de esquerda. Seguiram as ocupações do Jornal República e da Rádio Renascença, bem como a politização crescente da Igreja Católica. Retrataram, finalmente, as tensões no exército, o conflito militar latente no 25 de Novembro e o sentimento de orfandade de alguns militares na base de Tancos.
Depois do 25 de Novembro, os fotógrafos estrangeiros deixam gradualmente o país. Alguns tornam‑se estrelas maiores do mundo da fotografia. Portugal terá sido um balão de ensaio, onde puderam provar que tinham a distância e a sabedoria necessárias para sintetizar em imagens um processo extremamente complexo.
Neste dossiê digital é possível explorar uma amostra do que se encontra na exposição e no livro Venham Mais Cinco. O Olhar Estrangeiro sobre a Revolução Portuguesa 1974–1975, de Sérgio Tréfaut. Através de imagens icónicas captadas por fotógrafos internacionais entre 1974 e 1975, o visitante poderá vislumbrar momentos intensos e transformadores da Revolução dos Cravos — desde as manifestações populares aos processos de descolonização, passando pelas tensões políticas que marcaram o período. Esta seleção oferece um olhar envolvente sobre um dos momentos mais marcantes da história contemporânea portuguesa.