O derrube da ditadura em Portugal, a 25 de Abril de 1974, instalou no país um clima de celebração. Esta festa da liberdade – e em liberdade – viveu-se de norte a sul do país, traduzindo-se numa autêntica explosão de criatividade artística e de ativismo político, que tem (e mantém) como ícone a pintura mural.
Pintados em diversos espaços públicos, os murais transformaram-se, nos anos da Revolução, num veículo de comunicação. Por serem de acesso fácil e por terem um amplo alcance, foram o canal escolhido, nomeadamente, por partidos de todo o espectro ideológico, por ativistas e por artistas para veicular mensagens políticas, sociais e culturais.
Os murais exibiam mensagens contra a ditadura do Estado Novo, de celebração da liberdade, de apelo à solidariedade entre o povo português, nos diferentes grupos sociais e políticos. As composições incluíam, entre outras, imagens simbólicas, slogans políticos ou retratos de figuras históricas e políticas relevantes. Estas intervenções no espaço público tornaram-se uma forma de mobilização e consciencialização popular significativa, dado que no Portugal desta época o analfabetismo era superior a 20% (em 1970, 25,7% dos portugueses não sabiam ler nem escrever, o que equivalia a 1,8 milhões de pessoas).
Um dos momentos marcantes das manifestações culturais pós-25 de Abril é o Painel do Mercado do Povo, um mural coletivo pintado em Lisboa a 10 de junho de 1974. A iniciativa foi promovida pelo Movimento Democrático dos Artistas Plásticos (MDAP), do qual fizeram parte nomes como João Abel Manta, Júlio Pomar e Carlos Calvet.
50 anos depois do 25 de Abril, a pintura mural mantém-se ligada ao período da Revolução. Por todo o país, inúmeros projetos tiram partido do espaço público para evocar o legado do momento fundador da democracia portuguesa e trazê-lo para o presente.
Com base em conversas, troca de vivências e de histórias, transpõe estas reflexões e pontos de vista para imagens gráficas murais. Os participantes, além de terem a oportunidade de participar em diferentes oficinas artísticas, são autores da pintura mural.
A iniciativa, que conta com o apoio dos Municípios e da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, esteve já presente em Leiria. Passará também por Serpa e por Viana do Castelo.
O Centro Artístico- A Casa ao Lado -nasce em 2005, em Vila Nova de Famalicão, pelo traço dos artistas plásticos Joana Brito e Ricardo Miranda.
O Centro Artístico – A Casa ao Lado tem como missão a Dinamização Social e Cultural com e para a Comunidade através de uma Educação Artística, Inclusão Social através da Arte e Intervenções Urbanas. Desde o seu início em 2005, todos os projetos têm como base gráfica, histórias, lendas e/ou personalidades nos locais a intervir, de forma a criar uma marca identitária, de coesão social e territorial.
Este projeto visa criar, ao longo do ano de 2024, uma série de 14 murais em diferentes cidades do país, representando temas marcantes relacionados com a Revolução dos Cravos e com a sua herança histórica. Estes murais constituirão um roteiro artístico nacional, para evocação e promoção dos valores da democracia e da liberdade, e para a dinamização cultural e turística. É dinamizado pela dupla Ruído, com o apoio do Turismo de Portugal e está integrado nas Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Em cada mural, serão destacados temas e acontecimentos que desempenharam papéis significativos na transição e consolidação da democracia. Cada mural será uma homenagem aos feitos que moldaram o país.
É dinamizado pela dupla Ruído, com o apoio do Turismo de Portugal e está integrado nas Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Em cada mural, serão destacados temas e acontecimentos que desempenharam papéis significativos na transição e consolidação da democracia. Cada mural será uma homenagem aos feitos que moldaram o país.
Sobre o projeto criativo «Ruído»
Ruído é um projeto criativo composto pelos artistas portugueses Draw (Frederico Soares Campos n. 1988) e Alma (Rodrigo Guinea Gonçalves n. 1984), ambos com percursos vincados pelo graffiti e pela arte urbana. Incorpora uma colaboração artística que interliga um universo figurativo e profundamente humano com uma abordagem abstrata, geométrica e textural. O resultado é um trabalho único e reconhecível, dando vida a composições que exercem um forte impacto no espaço onde se inserem e que criam ligações multifacetadas com o observador.
«Lápis azul nunca mais», São João da Madeira
Durante o regime do Estado Novo em Portugal, o «Lápis Azul» era o símbolo da censura imposta pelo governo sobre a produção cultural e artística. Era usado para assinalar partes de textos consideradas inaceitáveis pelo regime, principalmente aquelas que poderiam ser interpretadas como críticas ao governo ou à ideologia vigente. Com o 25 de Abril de 1974 e a consequente queda do regime autoritário, a censura foi abolida, dando lugar a um ambiente de liberdade de expressão sem precedentes. O fim da censura permitiu que as vozes antes silenciadas pudessem ser ouvidas, possibilitando a expressão livre de ideias, opiniões e críticas.
«Manifestações Populares», Bragança
As manifestações populares refletem uma profunda reverberação do fervor cívico e do apoio popular ao Movimento das Forças Armadas (MFA), que desencadeou a Revolução dos Cravos em 25 de abril de 1974. Em várias partes de Portugal o povo expressou um desejo ardente por liberdade, democracia e gratidão às Forças Armadas e à Junta de Salvação Nacional, o órgão de governo provisório instituído pelo MFA quando derrubou a ditadura.
Essas manifestações não apenas representaram a adesão popular ao movimento revolucionário, mas também evidenciaram o papel ativo da sociedade civil na busca por mudanças políticas e sociais. Os diversos setores da sociedade, desde estudantes até trabalhadores e democratas, uniram-se em um clamor uníssono por um Portugal livre e democrático.
Ao destacar a importância das manifestações populares em Bragança, podemos entender melhor como o apoio da população foi fundamental para consolidar os ideais da Revolução dos Cravos e pavimentar o caminho para a democracia em Portugal. Esses eventos ilustram o poder transformador das massas e a capacidade de um povo em moldar o curso da história através de sua mobilização e engajamento político.