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No ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril, a Antena 3 regressou a alguns dos locais emblemáticos dos anos da ditadura, que marcaram a resistência e influenciaram a queda do regime, para exaltar a criação em liberdade. A estação pública juntou seis artistas, que cresceram longe da censura, e que trazem as suas canções, as suas lutas e os seus processos criativos, para os palcos de Abril. Celebramos esta data histórica, e lembramos a importância de criar - e viver - em liberdade e democracia. Um projeto com o apoio da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 Abril.

“Novos Cantos Novos” é uma série documental produzida pela Antena 3, em parceria com a RTP2 e RTP Palco. Em cada um dos seis episódios, um músico português da geração pós-revolução apresenta as suas canções numa sessão gravada ao vivo num local emblemático da resistência e da Revolução dos cravos. O projeto inclui uma conversa conduzida pelo radialista Luís Oliveira, sobre a importância de criar em liberdade, o papel do artista na intervenção política e social, e as memórias que cada um guarda do 25 de Abril.

Entre os artistas convidados estão Samuel Úria, Capicua, Eu.Clides, A Garota Não, The Legendary Tigerman e Xullaji. Os seis episódios têm como cenários as Oficinas da CP no Barreiro, a Estação Marítima da Rocha Conde de Óbidos, o Museu Militar do Porto, a Biblioteca da Universidade de Coimbra e o Quartel do Carmo.

O projeto é da autoria de Filipa Ramos e Luís Oliveira, da Antena 3. A realização é de Igor Martins, da Inovação RTP. A produção, de Filipa Ramos.

 

A Garota Não — Oficinas da CP no Barreiro

Cátia Mazari Oliveira é uma das grandes revelações da música portuguesa dos últimos anos. Escreve com a força de uma multidão, mas canta com tom de embalo. Abraçou o convite da Antena 3 para tocar nas Oficinas da CP no Barreiro, a pouco mais de 30 minutos da sua cidade-natal, Setúbal. Foi nestas oficinas que, em 1971, com a mesma força, mas com muitas mais vozes, em pleno Estado Novo, centenas de trabalhadores fizeram greve na luta por melhores salários e condições de trabalho, agitando as águas de uma sociedade que começava a querer ser de mudança. Cinquenta anos depois, A Garota Não, voz fundamental da cultura nacional, reflete nos ideais da criação em liberdade.

 

Samuel Úria — Forte de Peniche

Foi a 3 de janeiro de 1960 que o comunista Álvaro Cunhal e mais nove companheiros de cárcere conseguiram derrotar os muros e fugir da prisão de alta segurança de Peniche. Em 2024 — 50 anos depois da Revolução dos Cravos — Samuel Úria, músico e compositor nascido em Tondela em 1979, troca-nos as voltas e, a convite da Antena 3, entra no Forte de Peniche com mais nove amigos, para cantarem em coro à liberdade. Mesmo para um artista nascido num ambiente assumidamente conservador, como confessa, a liberdade não deixa de ser um dos mais valiosos tesouros.

 

EU.CLIDES — Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos

Nasceu em Cabo Verde, 22 anos depois do 25 de Abril, e veio para Portugal já com um ano de idade e num tempo muito distante daquele que se viveu nos movimentos de descolonização na Gare Marítima Rocha Conde De Óbidos, em Lisboa: era aqui que chegavam os amontoados de contentores das pessoas que retornavam de África. Foi também desta gare, decorada com painéis de Almada Negreiros, que, na década 60, partiram milhares de militares portugueses para combater no Ultramar. Em 2024, Eu.Clides, a convite da Antena 3, senta-se, reflete, pondera, mas nunca deixa de fazer o protesto com as suas canções.

 

Capicua — Museu Militar do Porto

Em 2012, quando lançou o seu álbum de estreia, Ana Matos Fernandes dizia, no tema “Maria Capaz”, que era a “comandante da guerrilha cor-de-rosa”. 50 anos depois do 25 de Abril, a Antena 3 convida Capicua a entrar no Museu Militar do Porto, a antiga sede da PIDE, e a mostrar — de punho bem fechado, como sempre — que a cantiga continua a ser uma arma. E que as palavras, quando aplicadas de forma ágil e sábia, são cartuchos prontos a disparar na constante luta pela Liberdade.

 

The Legendary Tigerman — Universidade de Coimbra

Paulo Furtado nasceu e cresceu em Coimbra. Não fez parte dos movimentos académicos nem das lutas estudantis que marcaram a vida da cidade. Mas fez parte de uma outra revolução, também ela marcante e impactante: a do rock ‘n’ roll sujo, potente e audaz que, no final da década de 1980 e início de 1990 virou Coimbra de pernas para o ar. Em 2024, 50 anos depois da Revolução dos Cravos, a Antena 3 recebe, na Universidade de Coimbra,
uma lição sobre como construir canções em liberdade pela voz de Legendary Tigerman, um verdadeiro professor-doutor do rock.

 

xullaji — Quartel do Carmo

Há 50 anos era um cenário impossível de imaginar. Ninguém diria que, meio século depois do 25 de Abril de 1974, no topo do Quartel do Carmo estaria um artista filho de pais cabo-verdianos a interpretar canções anti-racistas, anti-colonialistas e anti-sistema com a cidade de Lisboa a beijar-lhe os pés. Xullaji é figura central do movimento hip hop que surgiu em Portugal no final da década de 1980 e que cresceu alavancado pela primeira geração de filhos de imigrantes ou afrodescendentes, muitos deles vítimas de racismo e de exclusão social. Em 2024, a convite da Antena 3, o rapper sobe ao terraço do Carmo — epicentro da queda da ditadura — para interpretar a sua poesia revolucionária em curso.

 

#50anos25abril